sábado, 25 de julho de 2009



25 de julho de 2009
N° 16042 - NILSON SOUZA


Pergunta infalível

A segunda coisa de que mais gosto em minha amiga é a sua paciência. Ela ouve com abnegada atenção os relatos de meus problemas, não concorda nem discorda, e não transige nem mesmo quando percebe que estou implorando por solidariedade. Apenas pergunta:

– E o que a gente aprende com isto?

É a primeira coisa de que mais gosto nela. Sua indagação é ao mesmo tempo afetiva e profissional. Quando fala “a gente”, está dizendo sutilmente que está ao meu lado. Ao colocar o ponto de interrogação, porém, está me estimulando a pensar, a reagir, a buscar dentro de mim a solução para dúvidas e impasses, está sugerindo com convincente habilidade que sou capaz de dar a volta por cima de qualquer coisa. Sempre saio revigorado desses diálogos.

Se pudesse, transferiria esta técnica terapêutica para o país.

Tenho observado muita gente desanimada com o que lê e com o que ouve de seus representantes políticos. É tal o desencanto que as pessoas passam a colocar todos no mesmo saco, concluem que não tem jeito mesmo, que os poderosos continuarão usando o poder para se beneficiar, para empregar parentes, para gastar o dinheiro do contribuinte em mordomias.

Todo dia tem um escândalo novo nas manchetes e seus protagonistas não apenas permanecem impunes como voltam a ser eleitos, em alguns casos chegando mesmo a aparecer na capa dos jornais abraçados a antigos desafetos. Já ninguém mais consegue distinguir quem é quem. Dá mesmo vontade de desistir desta tal democracia. Pois, ainda assim, cabe a pergunta infalível:

– E o que a gente aprende com isto?

A resposta, como ensina minha querida amiga, está dentro de nós. Cada um de nós tem que descobrir o que pode fazer para o país aprimorar seus padrões de decência. Talvez tenhamos que começar por casa, pela educação das nossas crianças, pela construção de novos padrões morais.

Talvez tenhamos que expurgar de nossas vidas o tal jeitinho brasileiro, que justifica a informalidade mas também estimula a esperteza. Talvez tenhamos que sair às ruas para protestar coletivamente.

Talvez tenhamos que reaprender a utilizar o voto como forma efetiva de seleção dos nossos representantes políticos. Talvez seja hora de buscar caminhos ainda não trilhados.

Só não podemos desistir do direito de fazer nossas próprias escolhas. Se renunciarmos a isso, alguém vai escolher por nós.

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