terça-feira, 21 de julho de 2009



21 de julho de 2009
N° 16037 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Foguete Apolo, Festival Dionísio

Esses dias fecharam quarenta anos da chegada à Lua. As comemorações e evocações me parece que não ficaram à altura da força simbólica do evento lá em julho de 1969 – e pode ser que nunca fiquem, porque agora, 2009, ir ou não à Lua é questão perfeitamente secundária, irrelevante até, bem ao contrário de então, quando era um problema de urgência científica e de primazia política (chegariam antes os americanos e o Mundo Livre ou os soviéticos e a Cortina de Ferro?).

Foram os estadunidenses, como foram eles que derrotaram o bloco inimigo, vinte anos depois. E o fizeram sob este nome tão íntimo nosso, Apolo, o nome da nave. Apolo é um dos mais representativos deuses gregos; se caracteriza pelo equilíbrio, a moderação, a razão, a ordem – um deus à feição para simbolizar a ciência positiva. Quarenta anos atrás, deve ter ficado feliz com aquele atingimento tão extremo da história humana.

Também quarenta anos se completam de Woodstock, o festival de rock ocorrido em três dias, em agosto de 1969, em uma fazenda do estado de Nova York. Quantos jovens estiveram lá? As cifras variam bastante, mas ninguém baixa de 500 mil. Até então, juntação de gente para ouvir rock nunca tinha ido tão longe.

Foi o auge da atitude hippie: paz e amor, drogas e rock’n’roll, numa confraternização que contrastava com o ímpeto belicista, o consumismo, a caretice, o jeito todo do Sistema. Era Dionísio dando as caras, numa festa contínua de dezenas de horas – Dionísio, outro grego (mas de origem oriental), o deus da desmedida, da festa, da celebração irracional.

No momento em que escrevo estas palavras escuto um CD com Jimi Hendrix, o sensacional guitarrista que encerrou o festival, com a execução famosa do hino da terra do tio Sam (sofrida, irônica, reivindicativa?) e com Hey, Joe (“Ei, Zé, onde tu vai com essa arma na mão?”).

O que era aquilo? Uma vez eu li esta síntese eloquente, que explica uma parte do fascínio imorredouro do evento: Woodstock foi o derradeiro momento em que palco e plateia pareciam intercambiáveis, porque a força da grana ainda não era a principal, no mundo jovem, dos nascidos em 1940, 42, 45, como Jimi Hendrix, Caetano Veloso ou Bill Clinton.

Já tínhamos DVD e CD para reviver aquilo tudo; agora temos um belo livro, de Pete Forndale, radialista que começou a trabalhar no mesmo ano em uma FM descolada, acompanhou a coisa toda e agora nos relata, com um ritmo de cinema documentário, outros aspectos sensíveis: Woodstock – Quarenta Anos Depois, o festival dia a dia, show a show, contado por quem esteve lá (trad. Jamari França, editora AGIR). Da pesada.

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