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sábado, 11 de julho de 2009
12 de julho de 2009
N° 16028 - DAVID COIMBRA
Como ressurgem os heróis
Na primeira vez em que visitei a Itália caiu-me nas mãos um panfleto turístico sobre a Ilha de Elba. Fiquei interessado, quase fiz a viagem. Não pelas belas paisagens e praias aprazíveis que o lugar parece ter, mas porque foi lá que Napoleão passou o seu primeiro exílio, durante quase um ano, a partir de 1814.
Napoleão reinou de verdade em Elba, não se pode dizer que fosse um prisioneiro na ilha. Morava em um palácio, tinha uma corte para servi-lo e súditos que o obedeciam. Protagonizava festas suntuosas, dançava em bailes com seu jeito canhestro de dançar. Recebia visitas célebres.
Testemunhas contaram que Napoleão chegou a cogitar de viver em Elba para sempre, retirado das agitações da Europa que ele um dia havia submetido. As informações que recebia sistematicamente de seus agentes no Continente, no entanto, o convenceram de que seu retorno ao poder poderia ser bem-sucedido. Assim, Napoleão fugiu de Elba.
Ao chegar à França, a agradável surpresa: por onde passava, via-se saudado pelo povo. Os camponeses corriam de suas choupanas para acenar e gritar vivas, os velhos soldados calçavam de novo as botas e se incorporavam ao Exército do imperador. Porém, um de seus antigos comandantes, o Marechal Ney, decidiu que resistiria à tentativa de golpe bonapartista. Reuniu um exército e pôs-se no caminho do invasor.
Os dois exércitos estacionaram a poucos metros um do outro. Os soldados ficaram se encarando, franceses prestes a derramar sangue francês. Então, Napoleão se destacou da sua tropa.
Ordenou que o esperassem e avançou sozinho, a passo, olhando fixamente para os irmãos inimigos. O Marechal Ney não vacilou. Mandou que seus comandados atirassem. Que matassem o invasor! Os soldados ergueram suas carabinas. Fizeram pontaria. E Napoleão falou:
– Soldados da França! Se vocês quiserem matar seu imperador, aqui estou!
Um a um, os soldados foram baixando as armas. Nenhum teve coragem de puxar o gatilho. Levantaram-se. E correram para abraçar seus compatriotas do outro lado do campo, formando um só Exército. O marechal Ney, frustrado, apresentou-se a Napoleão:
– Rendo-me, imperador. Pode me prender. Ao que Napoleão abriu os braços e sorriu:
– O que é isso, Ney?! Venha cá, incorpore-se ao nosso Exército e assuma o comando de seus homens!
O segundo governo de Napoleão durou apenas cem dias, mas imagino que a forma como foi recebido pelo povo e pelo Exército justificou tudo o que ele fez na vida.
Quem pode se orgulhar de ter sido amado desta maneira pelas massas? Amado em vida, digo, sem a óbvia comoção póstuma. No Brasil, talvez só Getúlio Vargas tenha conseguido estabelecer tal empatia.
O São Januário lotava a cada discurso de Getúlio. Quando ele abria os pronunciamentos com seu famoso bordão, “Trabalhadores do Brasilll...”, o povo vibrava como se comemorasse um gol.
E aqui, em Porto Alegre, as calçadas da Farrapos ficavam tomadas de gente entusiasmada para vê-lo passar em carro aberto, cada vez que ele descia à capital de todos os gaúchos.
Lula? As pessoas sentem simpatia por Lula; amor, esse amor que inspira devoção e arroubos, esse amor desvairado, não. Talvez alguns esportistas e músicos brasileiros mereçam um sentimento de igual quilate ao que experimentou Vargas. Roberto Carlos enche um Gigantinho de amantes à moda antiga. Exceto ele, quem mais?
Os futebolistas, sim. Os futebolistas, mais do que os políticos populistas, mais do que os músicos populares, os futebolistas são amados pelos brasileiros. Mas não todos. Não basta ser craque. O jogador de futebol, para inspirar amor, tem que se identificar com o homem comum.
E esse talvez também tenha sido o segredo de um Getúlio Vargas, que não apenas tolerava como incentivava charges e paródias a seu respeito, ou de um Napoleão Bonaparte, que estava longe de ser um nobre, ele que nem francês era, era corso, de família simples.
Garrincha também era um simples. Mais: era até simplório. Isso comovia o torcedor. Isso o transformou na Alegria do Povo. Ronaldinho, enquanto posava de menino feliz e descompromissado, encantou o Brasil e o mundo. Ronaldinho, como Garrincha, representava a pureza do futebol. O futebol de brincadeira, que, afinal, é o bom do futebol.
Hoje só existe um jogador que vive no coração do povo: o rapaz de cabelo lanoso que vestirá a camisa 9 do Corinthians neste domingo, no Estádio Olímpico.
Ronaldo Nazário tem uma vida cheia de altos e baixos, como é a vida de qualquer um. Mas Ronaldo Nazário, assim como se tornou conhecido por suas quedas, torna-se lenda cada vez que se ergue.
Sempre que Ronaldo ressurge das sombras, ele mostra ao homem comum, o homem que erra, que sofre no dia a dia comezinho e sem brilho, que ele também, ele homem comum, pode alcançar um pouco da glória dos imortais. Porque Ronaldo Nazário erra como todos os homens, e retorna como um herói. Como um imperador. Como um Napoleão.
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