sexta-feira, 17 de julho de 2009



O ofício de escrever e a aventura de viver

Quem se lembra de David Foenkinos? Romance do professor de violão, escritor, roteirista de cinema e teatrólogo francês David Foenkinos que, através de uma linguagem e de uma trama aparentemente leves e superficiais, trata, em síntese, de dois temas essenciais: o ofício de escritor e a aventura da vida, digamos, real.

Formado em letras pela Sorbonne, Foenkinos é autor de seis romances que foram publicados em seis países. Entre eles, os sucessos O potencial erótico de minha mulher e Em caso de felicidade, publicados no Brasil pela Rocco.

Quem se lembra de David Foenkinos? é uma espécie de autoficção e conta a história da crise de meia-idade, ocorrida ou não, com o autor. Depois do sucesso do primeiro romance, O potencial erótico de minha mulher, os projetos literários de David resultaram em fracassos e ele se tornou uma promessa não cumprida. O gradual retorno ao anonimato e ao ostracismo veio acompanhado do desgaste do seu casamento, dos problemas financeiros e daquele vazio existencial que se chamava a “crise dos quarenta”.

Traído pela mulher, abandonado pelos editores e com falta de inspiração, David pega um trem para passar um dia em Genebra. Na Suíça, afastado da rotina asfixiante, ele tem uma ideia genial para um novo livro, mas, ao voltar para casa, a tal luz some tão rápido quanto surgiu.

Ele vai contar com a ajuda de um psiquiatra para recuperá-la e tenta reconstituir, o mais detalhadamente possível, a cena de origem da brilhante ideia perdida. A procura da ideia vai envolver a procura de um sentido para sua vida, a quebra da monotonia e a busca de um caminho para fugir da mediocridade.

O autor-narrador-personagem passa longe da melancolia e, com bom humor, transparência e ironia, vai refletindo sobre o mundinho editorial e seus personagens e, principalmente, sobre as fidelidades e infidelidades de todos os dias.

Rindo de suas próprias agruras, nosso anti-herói, à moda dos personagens de Philip Roth dos primeiros livros, vai seduzindo os leitores e relata seu envolvimento com a jovem Caroline, em passagens repletas de poesia e delicadeza.

O protagonista resgata as capacidades de amar e trabalhar e vai aproximando a literatura das questões mais essenciais da vida e a vida das questões mais básicas da ficção.

Depois da crise, verdadeira ou inventada, exagerada ou não, Foenkinos publicou Nos séparations, elogiado pela crítica francesa e ainda neste ano lançará o próximo romance, La delicatesse. Parece que vamos lembrar por muito tempo esse tal David Foenkinos. 160 páginas, R$ 28,00, tradução de Rejane Janowitzer, Editora Rocco, telefone 21-3525-2000.

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