Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 11 de julho de 2009
11 de julho de 2009
N° 16027 - CLÁUDIA LAITANO
Filisteus
Esqueça todos os vilões de novela e suas motivações estapafúrdias para atormentar a vida da mocinha até o último capítulo. A minissérie Som & Fúria, que estreou esta semana na RBS TV, colocou em cena um tipo de vilão até então inédito na TV. Suas motivações não são arrivismo social, paixão não correspondida ou trivial sociopatia.
Os personagens sombrios da trama dirigida por Fernando Meirelles são o que poderíamos chamar de “vilões culturais”: criaturas que, por ignorância, pobreza de espírito ou arrogância, não acreditam que um livro, uma peça, uma música, ou mesmo um programa de TV, possam realmente fazer diferença na vida de alguém – e ainda se dedicam a atrapalhar a vida de quem pensa diferente.
Em linhas gerais, Som & Fúria conta a história de uma companhia de teatro shakespeariana às voltas com dramas individuais e artísticos universais, além de algumas circunstâncias específicas da cena cultural brasileira: a dependência de patrocinadores e favores políticos, o embate entre talento e fama, o miserê generalizado.
Sobra gozação para todo mundo: artistas e administradores, gestores públicos e empresários, gerentes de marketing e intelectuais, além de referências a personagens reais do teatro brasileiro.
(Se você perdeu os primeiros capítulos porque estava acompanhando a vigésima reprise do funeral de Michael Jackson ou os flashes do palpitante casamento do Pato, ainda pode apanhar a série no meio do caminho, a partir da próxima terça-feira. Vale a pena.)
A piada mais escancarada (e divertida) dos primeiros capítulos foi ao tipo gênio afetado, representado pelo personagem Oswald Thomas (Antônio Fragoso) – obviamente inspirado no diretor Gerald Thomas, conhecido por montagens tão herméticas quanto pretensiosas.
Falando metade do tempo em inglês, esnobe no limite e muito convicto de sua importância e genialidade, Oswald é o antagonista de Dante (Felipe Camargo), o ator em crise que simboliza a paixão pelo teatro “de verdade”, aquele que pretende fazer o espectador pensar (e sentir) e não apenas diverti-lo ou deslumbrá-lo com cortinas de fumaça.
Se Oswald Thomas é o símbolo da ousadia vazia, os burocratas culturais Ricardo (Dan Stulbach) e Graça (Regina Casé) são a encarnação do filisteu triunfante – aquele tipo de pessoa que não apenas não move uma sobrancelha diante de uma obra-prima como possui um secreto (ou nem tanto) orgulho do próprio analfabetismo e insensibilidade.
Como se tudo o que eles não conhecem, ou não entendem, fosse imediatamente desprovido de qualquer valor para o resto da humanidade. Tenho certeza de que você conhece alguém assim – e quanto mais poderoso, por dinheiro ou posição, mais status de verdade incontestável o filisteu empresta a sua ignorância.
Em um diálogo muito divertido, Ricardo e Graça proclamam sua paixão por musicais – a provocação aqui é com Miguel Falabella, que estreia hoje no Rio a versão brasileira do musical Hairspray e tem se especializado no gênero. Eles se perguntam por que, raios, continuar montando Shakespeare se todo mundo sai muito mais feliz de um musical da Broadway.
Eis a questão que Som & Fúria tenta responder, usando uma trama contemporânea como pretexto para mostrar como o texto de Shakespeare permanece vivo, luminoso e surpreendente – há mais de 400 anos. Para quem quiser (e puder) ver.
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