quarta-feira, 22 de julho de 2009



22 de julho de 2009
N° 16038 - MARTHA MEDEIROS


Castidade fashion week

Há 15 anos, publiquei minha primeira crônica em Zero Hora. Nem imaginava a possibilidade de ser uma colunista fixa. O convite foi para escrever uma vez e fim, mas não foi o fim, e sim o começo de uma carreira que se mantém até hoje. Lembro bem do texto.

Foi inspirado numa reportagem de revista em que algumas atrizes diziam que pretendiam se casar virgens. Manchete da capa: “A virgindade na moda de novo”. Aquela matéria me pareceu um desserviço às mulheres: como assim, a virgindade na moda de novo? Castidade fashion week? E os rapazes iriam adotar essa moda também?

Mesmo sendo uma alienígena para os leitores, sem jamais ter escrito uma única linha para jornal, estreei atirando: condenei a papagaiada.

Disse que se uma mulher quisesse se manter virgem até o casamento, era uma escolha pessoal, íntima e legítima, mas a imprensa alardear o fato como tendência de comportamento era menosprezar as conquistas de toda uma geração que lutou muito pelo nosso direito à independência e ao prazer. Como ficar quieta ao ver o sexo ameaçado de voltar a ser um dote nupcial?

Pois passados esses 15 anos, retomo o assunto, agora inspirada na pastora Carol, que vem a ser Caroline Celico, esposa do jogador Kaká, que anunciou que irá abrir uma igreja Renascer em Cristo em Madri, pelo visto atendendo a um desejo do Senhor, segundo recente depoimento.

“Como pode no meio da crise alguém ter dinheiro? O dinheiro do mundo tem que estar em algum lugar. E Deus colocou esse dinheiro na mão de quem? Do Real Madrid, para contratar o Kaká. Foi uma grande bênção”.

Pois essa inocência em pessoa também vem pregando a valorização da virgindade, fazendo inclusive revelações sobre os detalhes do dia em que declarou a Kaká que pretendia se casar virgem. Segundo ela, Kaká a ouviu e, depois de um prolongado silêncio, disse que esse era o sinal divino que esperava para ter certeza de que ela era a mulher da sua vida.

É a história particular de um casal e ninguém tem nada a ver com isso, mas assistir a essa linda moça quase em transe, ao lado da bispa e chave-de-cadeia Sonia Hernandes, perpetuando preconceitos já vencidos (o vídeo está circulando pela internet para quem quiser conferir), me faz bater nas mesmas teclas de outrora: devagar, pastora Carol.

Você é esposa de um ídolo de massa, incluindo nessa massa muitas mulheres e homens mal informados. Assim como a gandaia em que vivem alguns jogadores não deve servir de exemplo para ninguém, a carolice (desculpe o trocadilho) também não.

O período do namoro serve justamente para se conhecer melhor a pessoa com quem, a priori, desejamos passar o resto dos nossos dias. E a compatibilidade sexual é um dos fatores decisivos para o sucesso de uma união.

Deixar para testá-la depois de consumado o casamento pode ser romântico, mas é um risco. Sexo não é pecado, e sim um impulso natural, e dos bons. Quando reprimido, gera radicalismo, tara, violência e histeria.

Depois de as mulheres terem vivido tanto tempo oprimidas na sua sexualidade, hoje elas finalmente administram seus desejos de uma forma adulta, responsável e livre. Retroceder, a essa altura, é que não tem perdão.

Aproveite o dia - Uma ótima quarta-feira para você.

Nenhum comentário: