sexta-feira, 17 de julho de 2009



Rezando por nós, Sarney?

Li que Sarney, sábado retrasado, saiu da espaçosa casa - aquela não declarada do Lago Sul - para ir rezar numa Igreja no centro de Brasília. Pelo visto, então, nem tudo está perdido. Papai do céu pode dar uma mãozinha para a gente, se Ele quiser.

Ele há de querer. Não me lembro de notícia semelhante envolvendo ACM, Jader Barbalho ou Renan Calheiros, três dos oito presidentes do Senado nos últimos catorze anos que acabaram sendo punidos por desvios éticos ou corrupção.

Os três deixaram o cargo somente depois de longos e desgastantes processos políticos e, ao que se tem notícia, não fizeram orações. Ao menos em público. Acho que nós todos, brasileiros, temos mais é que rezar. Esse bom exemplo, o Sarney está nos dando. Ao menos esse. Nossos problemas são anteriores ao Padre Anchieta e não é justo que só o presidente do Senado reze.

Todos temos que fazer orações, ajoelhar, elevar o pensamento a Deus e pedir uma luz para votar bem nas próximas eleições.

Todos precisamos meditar profundamente sobre o que ocorreu a partir de 1500 nestas terras ensolaradas, depois que os brancos europeus, de olhos claros, se deslumbraram com a paisagem paradisíaca de Porto Seguro e deu no que deu. Será que o presidente do Senado rezou o ato de contrição ou só pediu forças divinas para enfrentar as noites escuras que tem pela frente?

Será que ele orou só por ele e pelos apoios políticos que precisa ou por nós e pelos altos interesses do Brasil? Bem que ele poderia falar sobre isso. Tomara que ele tenha rezado direitinho pelas coisas e pessoas do bem. Ele ultimamente anda quieto, fugindo da imprensa como o diabo da cruz, mas sobre Igreja e orações poderia tranquilamente falar e, quem sabe, até fazer uns versos.

Além de ser chegado no poder, é beletrista e imortal. Pode ser que estes últimos escândalos, como muitos outros, fiquem soterrados pelos jornais de ontem, mantendo viva nossa tal “cordialidade” brasileira e assegurando a “governabilidade”. Pode ser que mudanças aconteçam depois das auditorias, das investigações e de eventuais punições.

De qualquer maneira, é melhor seguir rezando e pedindo a Deus para que ilumine os atos, as nomeações e as contas, secretos ou não, e todos os cantos escuros e obscuros da Pátria e dos patriotas. Deus de repente fornece a sonhada transparência.

Como decretou a sabedoria popular, “Se Sarney ajoelhou, tem que rezar”. Só rezando mesmo. Depois, é partir para pequenas e grandes ações cotidianas, secretas ou não, e aí construir uma verdadeira Nação e não simplesmente um País.

Quem sabe, no futuro, quando a gente for à Igreja, vai ser para orar e agradecer o que de bom tivermos conseguido e não para pedir os penicos e os perdões de costume e as salvações dos malandros de plantão.

Jaime Cimenti - Uma linda sexta-feira e um gostoso fim de semana

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