segunda-feira, 13 de julho de 2009



13 de julho de 2009
N° 16029 - PAULO SANT’ANA


Em cima da orelha

Tenho um amigo que é surdo. É muito amigo meu, muito próximo e muito frequente na minha intimidade.

Mas é surdo. Ele fala comigo da seguinte maneira: põe a boca bem junto ao meu ouvido e grita bem alto, no esforço de se fazer ouvir chega a salivar a minha orelha.

Mas tem uma coisa que não consigo nem nunca vou entender: se ele é que é surdo, por que grita tão alto em meu ouvido?

Estes dias, Rupert Murdoch, australiano, megaempresário de comunicações mundiais, encontrou-se em um simpósio com nosso presidente Nelson Sirotsky e vaticinou que a imprensa gráfica, da qual faz parte este jornal que você está lendo, começou a entrar em decadência e em futuro bem próximo será extinta, em razão do êxito retumbante da Internet e da informação instantânea online.

Em outras palavras, está a caminho do fim, segundo a opinião acima e outras autorizadas, o jornalismo da imprensa gráfica.

Esta afirmação me colocou em pânico. Há uma sensação de pavor em quem, como eu, dedicou toda a sua vida a uma carreira, a uma profissão e vê que elas estão em vistas de extermínio.

Sinto-me, sinceramente, como um urso panda ou uma ararinha-azul.

Doente em casa, estando sozinho, na sexta-feira telefonei para a entrega de medicamentos a domicílio. Liguei várias vezes e nenhuma telefonista me atendeu.

Estressado de tanto ligar, me lembrei que tinha o telefone celular do presidente da Panvel, Júlio Ricardo Mottin. Queixei-me da falta de atendimento telefônico, quando ele me disse que estava em Paris naquele momento, tendo ainda esnobado: “Janto neste instante naquele restaurante em que jantávamos todas as noites, no Quartier Latin, aqui na capital francesa, eu, tu, meu filho e toda a equipe esportiva da Gaúcha, durante a Copa do Mundo de 1998”.

Mas aproveitou para me dizer que ia ligar imediatamente para seu relações públicas, Luís Antônio, e mandaria entregar meus remédios na minha casa dentro de poucos minutos.

Inacreditável: recebi em minha casa, em 20 minutos, uma pronta-entrega de remédios, numa ligação POA-Paris-POA.

E eu ainda me queixo da vida.

Estava eu ontem no camarote do Olímpico assistindo à melhor exibição do Grêmio neste ano de 2009.

A gripe salvou o Grêmio. A lesão salvou o Grêmio. Elas retiraram de campo à última hora Rever e Maxi López. E seus substitutos, Rafael Marques e Alex Mineiro, foram estupendos nos 3 a 0 que o Grêmio aplicou no Corinthians. O time do Grêmio não é como na minha coluna, onde os reservas (interinos) não conseguem brilhar mais do que o titular.

A imprensa badalou o jogo durante a semana inteira, na base de promover Ronaldo Fenômeno, que não chutou nenhuma bola a gol e se revelou apagadíssimo. Tcheco apagou o Gordão!

Mas o que eu queria mesmo dizer é que perguntei ao jovem que assistia ao jogo do meu lado: “Mas como pode este irreconhecível Corinthians, que estamos neste instante vendo ser goleado pelo time de Autuori, ter conquistado a Copa do Brasil?”.

E o garotão Roberto Sirotsky me respondeu de bate-pronto: “Mas é claro, Pablo, o Grêmio não disputou a Copa do Brasil”.

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