quinta-feira, 16 de julho de 2009



16 de julho de 2009
N° 16032 - PAULO SANT’ANA


O medo

Um dos assuntos em que mais ocupo é o medo. Estes dias vi um filósofo sendo entrevistado na televisão. Ele disse uma coisa interessante: o medo faz parte da alma.

Penso que o filósofo quis dizer que não se vem a ter medo, ele já existe em cada um de nós. Por vezes ele desperta. O medo é tão peculiar ao ser humano que às vezes eu tenho terrível medo de ter medo.

Dizem que alguns gladiadores romanos escravizados sofriam tantas torturas de seus senhores que entravam na arena do Coliseu com medo de não morrer.

Do monumental tango Volver, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera:

Tengo miedo del encuentro

Com el pasado que vuelve

A enfrentarse com mi vida;

Tengo miedo de las noches

Que, pobladas de recuerdos,

Encadenen mi soñar...

Pero el viajero que huye

Tarde o temprano

Detiene su andar!

Y aunque al olvido

Que todo destruye,

Haya matado

Mi vieja ilusión,

Guardo escondida

Una esperanza humilde

Que es toda la fortuna

De mi corazón

Quando uma casa noturna e musical se inaugura na cidade, os sinos dobram de alegria.

É o caso da estreia hoje do Restaurante Don Juan, onde cantarão de segundas-feiras até sábados os meus antigos irmãos da noite Silvana Prunes, Alexandre Rodrigues e Nêgo Z.

Num dia bem próximo eu chego lá e me integro ao bando.

E lá vou eu, de médico em médico, de clínica em clínica, de farmácia em farmácia.

Sinto que a vida vai se extinguindo, bela ou trágica, mas vai aos poucos findando, deixando no seu rastro 70 anos de alegrias e tristezas.

E lá vou eu, de cirurgias em cirurgias, de próteses em próteses, pachola, fagueiro, sátiro, debochado, lá vou eu. E ainda vou. Porque atrás da verde-rosa só não vai quem já morreu.

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