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segunda-feira, 20 de julho de 2009
20 de julho de 2009
N° 16036 - L.F.VERISSIMO | L.F. VERISSIMO
Aqueles dias
Em abril de 1964 eu estava no Rio, recém-casado, e tentava começar um negócio que só confirmaria a incompetência da família para negócios.
Dependia de ajuda de casa para pagar o aluguel do nosso primeiro apartamento, em Copacabana. Um quarto e sala na Figueiredo Magalhães com janelas para a Siqueira Campos, onde passavam bondes.
Até hoje nossa primeira filha, que nasceu quando ainda morávamos lá, é a que tem o sono mais tranquilo: se acostumou a dormir com o barulho dos bondes da Siqueira Campos.
Cito os bondes para não citar outros marcos da distância que nos separa daqueles dias. O fato incrível de que tínhamos todos 45 anos menos, por exemplo. A TV era em preto e branco e a política da época, de certo modo, também. Havia a esquerda e havia a direita e as duas se demonizavam mutuamente.
A Terra estava dividida entre o Mundo Livre e o mundo comunista num permanente limiar de guerra, e a nitidez da distinção determinava o que nos acontecia aqui no quintal. Não foi um tempo de muitas nuances. Para a América Latina não ser dos demônios da esquerda mobilizaram-se os demônios da direita e começou a era dos generais. Entrávamos num período de moratória da liberdade que no Brasil duraria 20 anos.
Minha atividade política era nenhuma. Me limitava a vibrar com os artigos do Cony no Correio da Manhã e lamentar as notícias da consolidação do golpe na TV em preto e branco, que mostrava, entre outras celebrações, a coleta de ouro da população para ajudar os militares a salvarem o Brasil.
Não se soube onde foi parar este ouro. Nossa maior preocupação era com a minha tia Lucinda, que trabalhava para o governo do Rio, nunca escondera suas opiniões políticas e estava sendo perseguida.
A tia Lucinda, irmã da minha mãe, era uma pessoa extraordinária. Foi quem me acolheu quando resolvi sair de Porto Alegre com a vaga ideia de passar pelo Rio e seguir para o mundo. Era a madrinha da Fernanda, nossa filha carioca.
Se fosse preciso, contrabandearíamos a tia Lucinda para Porto Alegre. Não foi preciso. Eu é que, dois anos e pouco depois – a primeira filha nascida, a vida apertando e nenhuma perspectiva no Rio – decidi fazer a coisa sensata. Voltei pra casa do pai.
45 anos depois, é tão difícil recapturar o clima daquela época como seria, hoje, pegar um bonde na Siqueira Campos. Esquerda e direita se dissolveram em nuances, as divisões do mundo são outras, tudo mudou. Ou será que mudou? Um outro Brasil ainda luta para sair de dentro do velho como no processo interrompido em 64.
O que seria certamente o parto mais longo da história. Lembro com frequência da tia Lucinda. Principalmente depois que nasceu a nossa neta, filha da Fernanda, que lhe deu o nome da madrinha. Com a aprovação do pai da criança, Andrew, que é inglês. Pois “Lucinda” também é um venerável nome de novela vitoriana.
ERREI FEIO
Eu sei, eu sei. Errei feio. Há uma semana escrevi que a primeira seleção de basquete americano formada por jogadores profissionais a participar de uma olimpíada era o exemplo original de um “dream team” que não dera certo.
Como me corrigiram vários leitores, aquela seleção de 1992, que tinha Magic Johnson e Michael Jordan entre outros monstros, não só levou o ouro como ganhou todos os seus jogos por mais de 100 pontos, sempre com diferença maior do que 30 pontos. Enfim, tudo que eu disse que ela não tinha feito.
Eu é que estava sonhando. Também escrevi que o Chinezinho, que jogou no Inter e no Palmeiras e encerrou sua carreira na Itália devia ainda estar lá. Não está. Mora em São Paulo. Desculpe.
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