sábado, 18 de julho de 2009



19 de julho de 2009 |
N° 16035- MARTHA MEDEIROS


Onde será que vamos dormir essa noite?

Tem gente que não gosta de viajar de avião, eu adoro. Mesmo entalada feito uma sardinha, aprecio demais sentar ao lado da janela e ver o mundo lá de cima. Quando a duração do voo é excessiva – como nas viagens ao exterior –, acho cansativo, porém me consola saber que em breve estarei no local de destino, compensando o desconforto.

Há quem deteste viajar de ônibus, eu não me importo. Gosto de sentar à janela (de novo) e escapar de mim mesma – são nesses trajetos rodoviários que meu pensamento vai longe. E sonho com o dia em que os trens de passageiros voltem a colocar os brasileiros nos trilhos.

Quanto a barcos (de caiaques a transatlânticos), pulo essa parte. Sou terra, fogo e ar. Água, pra mim, é a melhor vista panorâmica que existe, desde que eu não esteja lá no meio.

E carro? Não tenho a menor dúvida de que é o meio de locomoção mais perigoso do mundo, mas me transformo em outra pessoa quando pego uma estrada. Melhor dizendo: volto a ser eu mesma. Devo ter sido cigana em outra encarnação, porque é na estrada que me sinto em casa.

Tudo bem se o trajeto for curto e conhecido, com ponto de partida e de chegada determinados, mas bom mesmo é sair on the road por semanas, de preferência em solo estrangeiro – o “estrangeiro” vale para o Brasil também. Leia-se: lugares para onde nunca fui.

Não sou de aventuras radicais, nasci com o defeito de acreditar que estar viva é aventura suficiente e que não é preciso incrementar o risco, mas uma sensação mínima de desconhecimento faz bem pra alma.

No meu caso, isso se reflete num dilema delicioso: não ter a menor noção de onde irei dormir, apenas saber que não será no local onde acordei. Isso já me aconteceu em muitas viagens feitas de carro, atravessando vários estados brasileiros e países latinoamericanos, e também lá do outro lado do oceano: acordar numa capital europeia, pegar um carro, sair sem rumo, atravessar fronteiras e, ao cair do sol, se deparar com um acolhedor vilarejo. “Bonito aqui, vamos ficar?”

Essas não são as mais confortáveis, mas são as que ficam retidas na memória: viagens sem reserva de hotel e sem roteiro previamente estipulado. Sair de manhã apenas com uma ideia inicial do que se pretende, mas com o espírito aberto para ser surpreendido em qualquer lugar – por qualquer lugar.

Já reproduzi algumas vezes uma frase que me parece sábia: “o máximo de liberdade que podemos almejar é escolher a prisão em que queremos viver”.

Eu escolhi a prisão domiciliar, com comprovante de residência – o que me faz dar muito valor para essas eventuais escapadas. É como se fosse um regime semi-aberto, só que dormindo cada dia num lugar diferente. Férias é trocar de cela.

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