sexta-feira, 31 de julho de 2009



E palavras...

O jornalista e escritor norte-americano Gay Talese esteve na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) há poucos dias. Ficou encantado com o tratamento carinhoso que recebeu.

Ele merece. Autor de livros, reportagens e entrevistas antológicos, como a que fez sobre Frank Sinatra, através de depoimentos de terceiros, Talese é um dos papas do celebrado Novo Jornalismo, junto com Tom Wolfe, Truman Capote e Norman Mailer, entre outros nomes célebres.

O Novo Jornalismo utiliza técnicas de literatura de ficção para a confecção de textos jornalísticos e, sem dúvida, revolucionou o trabalho da imprensa e da literatura. Talese concedeu longa e interessante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Aos quase oitenta anos apresenta entusiasmo de estagiário e paixão imorredoura pela atividade jornalística. Mesmo enfrentando, como nunca, as conhecidas dificuldades de trabalho, envolvendo salários, liberdade de imprensa, pressões econômicas e outros problemas, os jornalistas, segundo o autor de A mulher do próximo, devem exercer seu ofício com respeito aos princípios da profissão e perseguindo o ideal da busca da verdade e do texto bem elaborado.

Para ele é melhor não ficar utilizando só a internet e outros meios eletrônicos para cumprir tarefas jornalísticas. Talese diz que é preciso ir nos locais, observar as pessoas e usar os cinco sentidos para oferecer aos leitores, radiouvintes e telespectadores o melhor possível sobre fatos e personagens que os interessem.

Talese utiliza um escritório silencioso e sem telefone para finalizar seus trabalhos. Realmente, o silêncio e a solidão de um escritório, mesmo que não seja um grande local de trabalho, contribuem para reflexões, pensamentos, frases e parágrafos bem construídos.

O que diz Talese pode ser aplicado a quase todas as profissões e ao próprio viver. Trabalhar obecedendo os fundamentos do ofício, mas com liberdade e criatividade para ir além é das coisas fundamentais da existência. Fazer o trabalho diário com amor e paixão certamente deixam as pessoas e o mundo bem melhores. Não importa qual o trabalho.

O de um jornalista e escritor mundialmente famoso como Gay Talese ou as tarefas que milhões de anônimos desenvolvem vinte e quatro horas por dia no planeta. Numa época de vaidades intergalácticas, shownalismo egocêntrico e exagerado e de milhões de solitários-acompanhados internautas, as palavras de Talese vem bem.

Inclusive para mostrar aos poderosos de plantão, aos inimigos da profissão de jornalista e da liberdade de imprensa que sempre haverá quem lute por ideais, mesmo ganhando pouco, trabalhando muito e enfrentando ventos, marés, tubarões e outros bixos.

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