sábado, 24 de abril de 2021


A hora do banho de banheira

Às vezes, tudo de que preciso é um bom banho de banheira. Bem quente e com espuma, de preferência. Mas, lamentavelmente, não tenho banheira em casa. Na verdade, nunca tive uma casa com banheira. Falo das grandes, em que você se senta e fica com as pernas esticadas. Uma banheira na qual é possível dormir, como nos filmes americanos em que a mocinha dorme enquanto o assassino se aproxima. As pequenas, em que você fica todo encolhido, essas já tive. Não conta.

A primeira vez que tomei um banho de banheira autêntico foi na Itália. Eu nunca fora à Europa, e já tinha mais de 30 anos de idade. Viajei para cobrir uma missão econômica de empresários de Criciúma no norte italiano. No começo, nós não nos conhecíamos, então ficamos desconfiados. Eles empresários, eu jornalista, sabe como é. Mas, quando chegamos a São Paulo, já éramos os melhores amigos.

Viajamos pela Itália em um ônibus. Imagine: 30 brasileiros atravessando o belíssimo norte italiano, parando de cidade em cidade, conhecendo não apenas as empresas, mas as atrações dos lugares. Foi uma das mais divertidas viagens que fiz.

Em Milão, nos hospedamos em um hotel muito bom. Os quartos eram espaçosos e confortáveis. E o banheiro tinha... banheira! Fiquei olhando para ela: era imensa, porém acolhedora. Decidi: no dia em que tiver tempo, vou tomar banho de banheira.

O dia seguinte a essa tomada de decisão foi duro. Acordamos cedo, visitamos empresas não apenas em Milão, mas nas cidades próximas. Só voltamos para o hotel à noite. Eu estava sujo e cansado. Era a hora de tomar banho de banheira!

Foi o que fiz. Temperei a água e enchi a banheira. Em seguida, entrei nela como uma diva de Hollywood. Fiquei ali, relaxando, talvez por meia hora. Quando saí, concluí que relaxei demais. Baixou-me a pressão e tive de me deitar na cama para não desmaiar. Banhos de banheira podem ser perigosos, deduzi. Mas não desisti deles. Até hoje, tanto tempo depois, se encontro uma banheira apropriada, vou para o banho. Só cuido na hora de me levantar. Saio da banheira relaxado e renovado, sem necessitar de mais nada, nem sexo.

Talvez você ache futilidade da minha parte isso de banheira. É porque você não sabe de algo que já escrevi a respeito, que o revolucionário Marat passava os dias na banheira e dentro dela foi assassinado. E que Churchill despachava da banheira, bebendo uísque e fumando charuto. Talvez algumas das mais importantes deliberações que salvaram o Ocidente dos nazistas tenham sido tomadas em uma banheira.

Então, estou absolvido. E agora, neste momento em que estamos todos lidando há um ano e meio com um vírus que pode ser mortal, que estamos confinados em nossas casas, que estamos à mercê de um governo errático, que chegou a recusar vacinas contra a doença, agora que o juiz e os promotores da Lava-Jato estão sendo condenados e aqueles que eles condenaram estão sendo festejados, agora tudo de que preciso é um bom banho em uma grande banheira, com espuma e tudo.

Mas grande banheira não há. Continuarei aqui, na expectativa de que o tempo cure os males que ele próprio causou.

DAVID COIMBRA 

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