quinta-feira, 22 de abril de 2021


22 DE ABRIL DE 2021
DIÁRIOS DO MUNDO

O maior teste do governo Bolsonaro no cenário global

Entre hoje e amanhã, os olhos do mundo estarão voltados para a Cúpula de Líderes sobre o Clima, a menina dos olhos do presidente americano Joe Biden. O democrata, que no primeiro dia de governo recolocou os Estados Unidos no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, elegeu a agenda ambiental prioridade de seu mandato. O Brasil, isolado pela má gestão de crises como os incêndios na Amazônia e da pandemia, chega ao encontro com a imagem prejudicada. A tensa relação com o governo Biden é um capítulo à parte do evento. A coluna separou sete temas geopolíticos que pairam sobre a cúpula.

1 LIDERANÇA AMERICANA

O encontro é a primeira grande ação internacional de Biden. Com a reunião, o país tentará retomar protagonismo nas negociações para conter o aquecimento global, depois de quatro anos do governo Donald Trump, que negava as mudanças climáticas. O convite para que líderes de mais de 40 nações se reúnam para falar de ambiente significa também o retorno dos EUA à posição habitual de líder global e defensor do sistema multilateral.

2 DISPUTA COM A CHINA

A cúpula é uma cartada americana na disputa com a China, maior rival estratégico dos EUA. Muitos pesquisadores acreditam que o mundo vive uma transição hegemônica, de uma ordem global orientada pelos EUA para uma outra, comandada pelos chineses. Essa disputa por reorientar a geopolítica mundial explica as rixas comerciais, por exemplo. Na questão do clima, a China é o maior produtor e exportador de painéis solares, turbinas eólicas, baterias e veículos elétricos. Não há como costurar qualquer acordo sobre redução de emissões de gases poluentes sem buscar a concordância de Pequim, o maior poluidor mundial.

3 UNIÃO EUROPEIA

A UE chegará à cúpula em grande estilo. Ontem, os governos do bloco fecharam um acordo para estabelecer, por lei, o compromisso de tornar-se neutro em emissões até 2050 e de reduzir os gases do efeito estufa em pelo menos 55% até 2030. Ao tornar lei, a UE dá um sinal contundente ao mundo de seu compromisso com o ambiente. O bloco econômico é o terceiro maior poluidor mundial - atrás de China e EUA.

4 META AMBICIOSA

O Acordo de Paris, celebrado em 2015, é hoje, graças à inação de líderes como Trump, letra morta. Suas metas são insuficientes para garantir que a temperatura média do planeta não ultrapasse 1,5ºC de aquecimento ante os níveis pré-Revolução Industrial. Desde o encontro na capital francesa, as emissões na atmosfera só aumentaram. Os EUA querem que os governos, especialmente os de nações mais poluidoras, como China, União Europeia (UE), Índia e Rússia, se comprometam com metas mais ambiciosas de redução de gases do efeito estufa, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, em inglês). Espera-se que os EUA façam sua parte. Há rumores de que, ao abrir a conferência, Biden irá anunciar o novo NDC dos EUA.

5 MAIOR TESTE DO GOVERNO BOLSONARO

Depois que o Brasil ganhou as manchetes internacionais pelos incêndios na Amazônia e pelo descontrole da pandemia, o governo Jair Bolsonaro tentará convencer o mundo em geral e os EUA em particular de que seu mandato está trabalhando para proteger a floresta. Na semana passada, o presidente enviou uma carta a Biden relatando seus planos para preservar a Amazônia, que vão desde a regularização fundiária à venda de crédito de carbono, prometendo zerar o desmatamento ilegal até 2030.

No discurso que fará na cúpula, Bolsonaro deve reforçar os compromissos expressos na carta. Porém, o país deve seguir sob pressão nos dois dias de encontro, uma vez que os números de desmatamento não param de aumentar.

6 A TENSA RELAÇÃO ENTRE EUA E BRASIL

A relação entre os governos Bolsonaro e Biden é um capítulo à parte. Desde que assumiu, o brasileiro estabeleceu alinhamento automático com a Casa Branca de Trump, por vezes emulando ações do então presidente republicano, como a negação do aquecimento global. Agora, com Biden, o Planalto está sendo pressionado a mudar sua agenda ambiental sob o risco de perder investimentos externos. A troca do chanceler, com a saída de Ernesto Araújo, admirador de Trump, e a entrada de Carlos Alberto França, ajuda. O novo chefe do Itamaraty fala a linguagem da diplomacia, que preza pela cooperação no sistema global. Por outro lado, no Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles, criticado pela política ambiental que tem prejudicado a imagem do Brasil no Exterior, sofre mais pressão para que deixe a Esplanada.

7 LÍDERES GLOBAIS

A reunião de cúpula será um evento extraordinário, fora da agenda habitual dos líderes mundiais, que normalmente só se encontram em conferências como a Assembleia Geral da ONU ou eventos mais reservados, como cúpulas da Otan, Brics, Davos. Mesmo que de forma virtual, estarão presentes pesos-pesados da política mundial: além de Biden e do líder chinês Xi Jinping, o presidente russo, Vladimir Putin, o francês Emmanuel Macron, e a chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo.

RODRIGO LOPES

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