terça-feira, 20 de abril de 2021


20 DE ABRIL DE 2021
NILSON SOUZA

Frágil, mas bela

Tudo bem, a vida é frágil. Um sopro, como dizia Oscar Niemeyer do alto do seu século de sabedoria. Mas nos oferece tantas possibilidades, tantas curvas, tantas linhas mágicas entre o papel e o concreto armado, que só resta agradecer a ela por nos ter presenteado com um Niemeyer.

Tudo bem, a vida é frágil. Mas cada dia é uma vida, como ensinou o filósofo Sêneca. E recebemos tantos dias que sequer sabemos o que fazer com eles além de contá-los. Viraram semanas, meses, anos, décadas até. Há insetos que vivem minutos apenas. Na comparação, nossa longa existência é uma dádiva merecedora de gratidão.

Tudo bem, a vida é frágil. E, sem música, seria um erro, na visão de Nietzsche. A música, que Gibran disse ser a linguagem dos espíritos, harmoniza corações e mentes, movimenta o corpo e leva a alma a voos impensáveis. Gracias a la vida que nos deu Mercedes Sosa e tantas outras vozes tão poderosas quanto ternas e eternas.

Tudo bem, a vida é frágil. Nada mais é do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver, escreveu García Márquez. Mas essas oportunidades se multiplicam na proporção geométrica da nossa imaginação, da nossa capacidade de criar outras vidas, como fez o próprio colombiano. Obrigado, vida, por Gabo e por tantos outros inspirados escribas.

Tudo bem, a vida é frágil. É uma simples sombra que passa, no dizer do grande Shakespeare - ele mesmo um luminar de mentes: há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa vã filosofia. Portanto, vale a pena descobrir o que encobre essa sombra que passa, de preferência enquanto ela passa. E vale, também, agradecer à vida por nos proporcionar tal aventura.

Tudo bem, a vida é frágil. É uma grande ilusão - cantou Vinícius, complementando com a rima bem-humorada: "Só sei que ela está com a razão". E sempre está, mesmo quando destoa dos nossos planos, dos nossos enganos e dos nossos 20 anos. Também por nos devolver à realidade merece a nossa gratidão.

Tudo bem, a vida é frágil. É um incêndio, poetou Quintana, lembrando que sempre terminará em cinzas, mas o que importa é tornarmos a chama bela e alta. Como fizeram todos esses que aí estão e que já passaram - passarinhos? - ao plano infinito, mas continuam iluminando as nossas vidas.

NÍLSON SOUZA

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