segunda-feira, 19 de abril de 2021


19 DE ABRIL DE 2021
MAIS MORTES DO QUE NASCIMENTOS EM MARÇO

RS é único Estado a ter redução populacional

O Rio Grande do Sul registrou em março, auge da pandemia, mais mortes por todas as causas do que nascimentos, um fenômeno jamais observado desde 2003, período de início de dados disponíveis para análise. Foi o único Estado do Brasil a verificar encolhimento da população neste mês.

Foram 15.844 mortos por todas as causas, incluindo coronavírus, e 12.006 nascimentos no Rio Grande do Sul em março, o que resultou na redução de cerca de 3,8 mil pessoas na população. A mortalidade foi tão alta que o número de óbitos foi 137% maior do que em março do ano passado.

A análise de GZH é um cruzamento de dados preliminares do Portal da Transparência do Registro Civil, abastecido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A tendência de março se repete, até o momento, em abril. Segundo dados levantados até sábado por cartórios gaúchos, 5.484 pessoas nasceram e 6.508 faleceram no Rio Grande do Sul neste mês, o que resulta em uma redução de cerca de 1 mil pessoas.

- Não tenho conhecimento de outro momento na história em que o número de óbitos tenha superado o de nascimentos (no RS). Em março de 2020, tivemos 6.677 óbitos no Rio Grande do Sul. No mesmo mês de 2021, pulamos para 15.844. Março de 2021 foi o ponto fora da curva - diz Sidnei Hofer Birmann, presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Rio Grande do Sul (Arpen-RS).

A diferença entre a natalidade e a mortalidade da população vem caindo ao longo dos anos no Brasil como resultado do que os especialistas chamam de "transição demográfica", que resultou na queda de nascimentos desde os anos 1960 por motivos como urbanização, entrada cada vez mais expressiva da mulher no mercado de trabalho, avanço dos métodos contraceptivos e maior compreensão da população sobre como usá-los adequadamente. Contudo, mesmo com a transição demográfica ocorrendo há décadas, jamais havia sido registrado cenário tão brusco no Estado como o de março e, até o momento, de abril, em que óbitos superaram nascimentos.

Analistas pontuam que esses dados resultam do grande número de vítimas da covid-19, da sobrecarga do sistema hospitalar, que prejudicou atendimentos a outras doenças, e do comportamento de parte da população diante da pandemia.

- Não tem a ver só com o vírus, mas com as pessoas que não acreditam no vírus, com comportamento suicida e descrente da ciência. Temos pessoas que estão indo aos hospitais para procurar assistência médica, mas não recebem a atenção adequada porque o sistema de saúde não está dando conta - diz Ricardo de Sampaio Dagnino, demógrafo, geógrafo e professor da UFRGS.

Ele destaca que a pandemia e a alta mortalidade de 2021, com a manutenção da progressiva queda de nascimentos, pode acelerar a redução do número de habitantes no Estado.

 CARLOS ROLLSING E MARCEL HARTMANN

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