sábado, 17 de abril de 2021


16 DE ABRIL DE 2021
DAVID COIMBRA

Renato: a queda de uma estátua

Não foi a covid que derrubou Renato do Grêmio. Pode ter ajudado, mas, se o time estivesse bem, ele permaneceria no cargo, ainda que demorasse para voltar à ativa.

Na verdade, a renovação de Renato foi inexplicável. Nessa quinta-feira, escrevi em GZH uma crônica em que analisei as últimas temporadas do Grêmio. Escrevi o seguinte:

"De 2018 para cá, o Grêmio colecionou alguns dos resultados mais constrangedores da sua história. Levou 5 a 0 do Flamengo e 4 a 1 do Santos, foi surrado pelo Atlético Paranaense e pelo Caxias, permitiu que o River e o Inter virassem jogos ganhos nos últimos minutos de partida e, agora, foi eliminado pelo Del Vale na Arena. Mas o pior talvez tenha sido a forma como enfrentou o Palmeiras na final da Copa do Brasil _ um Grêmio desinteressado, alheio, distraído, como jamais se viu, nem nos piores times da sua história mais do que centenária.

Nesses fracassos rotundos, o conjunto de erros da comissão técnica é assombroso. A insistência com jogadores como Paulo Victor, Vanderlei, André e Bressan é um escândalo. A direção compreendeu isso e removeu esses jogadores do grupo. Mas outros começam a tomar o lugar deles, como o zagueiro Rodrigues. Inexperiente, afoito, Rodrigues poderia ser emprestado para aprender e se fortalecer, mas continua à disposição, acaba jogando e fica sempre muito perto de se queimar".

Isso tudo, essa coleção de equívocos, era vista por torcedores e conselheiros do clube. Que pressionavam o presidente Romildo Bolzan. Assim, por mais que Bolzan goste de Renato e seja grato a ele, a realidade termina se impondo. Os resultados gritam mais alto. Renato saiu porque não tinha mais como ficar.

Mas a história da longa permanência de Renato no clube traz algumas lições. A principal é a de que, às vezes, a estabilidade, que é algo positivo, pode se transformar em fator de relaxamento e de acomodação. A segurança de Renato no cargo fez com que ele cometesse temeridades, como a insistência na escalação de certos jogadores que não eram mais suportados pela torcida e pelos próprios dirigentes. Além disso, o comportamento de Renato mudou. Antes de 2018, o Renato vencedor era ponderado e sensato nas entrevistas. Tanto que as pessoas se surpreendiam: "O Renato mudou! O Renato amadureceu!". Depois, quando começou a perder e as críticas vieram, Renato tornou-se arrogante, agressivo e debochado. Até seus amigos do futebol, como Casagrande, o censuraram pela forma como se manifestava.

Mesmo assim, Renato sai do Grêmio sem mácula. A torcida o adora e ele sempre será o maior ídolo do clube. Seus reveses dos últimos tempos logo serão esquecidos e suas conquistas voltarão a ser exaltadas. Mais tarde, se o Grêmio estiver precisando, ele será lembrado. Porque Renato é uma estátua na Arena, e uma estátua é para durar para sempre.

DAVID COIMBRA

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