23 DE ABRIL DE 2021
DAVID COIMBRA
Um fato que deveria ser feriado no Brasil
Quando morava nos Estados Unidos, sempre que encontrava um estrangeiro e lhe contava que sou brasileiro ele comentava:
- Os brasileiros são legais...
Porque a descontração e a alegria são marcas do brasileiro.
Às vezes, estava em uma reunião com 10 ou 12 pessoas de vários países, todos falando inglês. Observava cada um deles. De repente, detinha-me num e dizia para mim mesmo: esse é brasileiro. E era. Nunca errava. O brasileiro é mais leve, menos formal e demonstra isso até na forma de se sentar à mesa. O que é excelente para conquistar amigos, mas pode tornar difícil construir uma nação com regras básicas a serem cumpridas.
Onde começou a se desenvolver esse jeito brasileiro de ser?
Eu sei.
Está registrado no primeiro documento escrito sobre o Brasil, a maravilhosa carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal. Você pode achar que um documento escrito há 521 anos não pode ser bom de ler hoje em dia. Você estará errado. A carta de Pero Vaz de Caminha é bem escrita, fluente e viva. Ele faz um relato vibrante e colorido da viagem da frota de Cabral e dos primeiros dias dos portugueses em Porto Seguro, evento que está fazendo aniversário nesta semana.
Num dos trechos mais encantadores da carta, Caminha descreve um episódio espetacular, algo que deveria ser destacado em todos os livros de história do Brasil. Deveria haver um feriado comemorando essa façanha. O protagonista da proeza foi um homem chamado Diogo Dias. Ele era irmão de Bartolomeu Dias, que também estava na frota.
Bartolomeu Dias, você sabe, foi quem deu a volta no antigo Cabo das Tormentas, depois renomeado Cabo da Boa Esperança. Devia ser boa gente o irmão dele, o Diogo Dias, porque Pero Vaz de Caminha disse que ele era "homem gracioso e de prazer". Diogo confirmou essa definição fazendo o seguinte: como viu que os índios gostavam de dançar, ele desceu numa praia da Bahia na companhia de um gaiteiro. Sim, o homem levou um gaiteiro com ele! Chegando à praia, o gaiteiro pôs-se a tocar e Diogo começou a dançar. Os índios, vendo aquilo e ouvindo a música, não tiveram dúvida: dançaram também. E Diogo dançou com eles e os tomava pelas mãos e todos pulavam e riam e riam e riam.
Agora me diga: em que outro lugar do planeta os colonizadores ou conquistadores ou, sei lá, invasores chegaram e DANÇARAM com os nativos?
Vou repetir: no descobrimento do Brasil pelos europeus, os portugueses dançaram com os índios!
Que primeira missa o quê! Que "Terra à vista!" O maior, mais significativo e mais espetacular fato do descobrimento foi a dança de Diogo Dias com os índios. Grande Diogo Dias! Queria tomar uns chopes com ele, de preferência num bar com mesinhas na rua, rindo e comentando:
- Tu viste o cocar daquela índia?
Ele, Diogo Dias, e os tupiniquins que com ele dançaram são os fundadores do jeito brasileiro de ser. Eles nos definem na alegria, na despreocupação, no descompromisso, na irreverência. Não adianta, nós somos assim há 521 anos e continuaremos a ser. O que pode ser ótimo. Mas também pode ser péssimo. Cabe a nós desenvolver o lado bom. E jogar fora o ruim.
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