sábado, 24 de abril de 2021


24 DE ABRIL DE 2021
MONJA COEN

INSPIRAR

De onde vem a inspiração? Do movimento da caixa torácica que se expande e permite o ar entrar? Esse é o movimento respiratório natural. Nossa primeira inspiração foi ao sair do útero materno. Som nas cordas vocais como um choro.

Há dor ao inspirar e expirar? Há dor ao nascer?

Parto natural, forçar a passagem por um canal estreito. Todo o cérebro se comprime e saímos do meio aquoso, do calor, do ser alimentada pelo umbigo - cordão umbilical, que precisa ser cortado. Rompimento de um quentinho agradável e transitório.

Você gostaria de ainda estar no útero materno? Será que não estamos todos sendo gerados e transformados a cada instante? Inspirando e expirando.

Ao inspirar, recebo tudo que há: o bem e o mal, a alegria e a tristeza, a dor e o prazer - todos os pares de opostos. Circula em meu sangue uma molécula de oxigênio que estava disponível quando a caixa torácica se expandiu e inspirei.

Essa molécula deve ter vindo de uma árvore qualquer, durante o dia, no seu processo vida fotossintética. A árvore inspirou o gás carbônico e exalou oxigênio. O oposto de nosso sistema respiratório. O pulmão que se parece com uma árvore... Invertida.

Ao expirar, oferecemos de volta às árvores o gás que percorreu todas as nossas células e fez a troca, oxigenando e alimentando nosso corpo. Recebemos e oferecemos de instante a instante.

Respirar. Saber respirar. Respirar conscientemente. Saborear cada inspiração e cada expiração. Basta estar atenta. Não há esforço especial. Endireite a coluna vertebral. Firmes os pés na Terra. Alongada a cabeça ao céu. Você é a ponte, o veículo, o caminho, a vida.

Sorria. Receba e transforme o desconhecimento, o medo, a ansiedade. Respire. Tudo passa. Somos a transformação que queremos no mundo.

Você pode respirar sem aparelhos. Ainda há oxigênio disponível no ar. Vamos manter essa disponibilidade para futuras gerações? Podemos tanto. Esperançar. Fazer acontecer. Ainda dá tempo de reverter o que foi feito errado, a decisão indecisa que prejudica a vida. Restaurar, redimir, reconciliar, rever, reler, religiosamente.

Expirar, terminar, por fim, finalizar. Tudo que começa termina.

Até crianças morrem de covid. Dói morrer ou o que dói é o que antecede a expiração final? No momento de expirar, a caixa torácica se contrai e o ar sai. Depois de tantas expirações, as de prazos e as de paixões, chega um momento que não é o final, mas é o da última expiração natural. Um corpo que não inspira mais deteriora, apodrece.

Antes disso, me diga, vale? Com dor e ou sem dor, as experiências de vidamortevidamorte são preciosas. Incessante movimento transformador.

Na tristeza, entristecemos, anoitecemos - e passa.

Na alegria, alegramos , amanhecemos - e passa.

Ao perceber cada inspiração e cada expiração, podemos saborear uma e outra, sem pressa, sem aflição - e mesmo quando houver pressa e aflição perceber a oscilação respiratória. Presente no aqui e agora. Despertemos. Que seja um despertar inspirado.

Mãos em prece

P.s.: Acaba de ser lançado pela editora Citadel o livro Despertar Inspirado, escrito pelo professor Clóvis de Barros Filho e por mim. São reflexões sobre 40 temas que podem transformar a realidade e o cotidiano dos leitores.

MONJA COEN

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