quarta-feira, 28 de abril de 2021


28 DE ABRIL DE 2021
DAVID COIMBRA

Como seria viver sem vacina e com coronavírus

E se o coronavírus tivesse atacado a humanidade ANTES da invenção da vacina?

Pense nisso.

A vacina foi inventada por um médico inglês, Edward Jenner, que trabalhava no campo. Ele observou que as mulheres que tiravam leite das vacas eram imunes à varíola, que era a grande praga da época. A varíola matava de uma morte horrenda, em meio a febre, pústulas, coceira e dor.

Jenner percebeu que a imunidade das leiteiras era adquirida depois que elas contraíam a varíola bovina. Então decidiu fazer um teste digno do doutor Mengele: raspou o pus da ferida de uma das infectadas e tomou um menino de oito anos de idade, filho de seu jardineiro, para ser sua cobaia. Jenner inoculou o pus da varíola bovina no menino, que contraiu a doença. Só que de forma leve, como acontecia com as leiteiras. Ele se curou e Jenner esperou seis semanas. Então, pegou o menino mais uma vez e lhe inoculou o vírus ativo da varíola humana. O que houve com o menino? Nada. Ele estava imunizado contra a varíola.

Hoje, Jenner seria preso, mas sua descoberta salvou milhões de vidas e possibilitou à humanidade a erradicação da varíola.

Pois imagine se o coronavírus surgisse antes do século 18. Ele mata menos do que a varíola e outras pandemias do passado, como a da peste negra, isso é verdade, mas é mais contagioso e tem a capacidade solerte de produzir insidiosas mutações, cepas novas e mais agressivas.

Mesmo que não morra, ninguém quer contrair uma doença dessas, que pode deixar sequelas, que pode fazer a pessoa sofrer barbaramente com falta de ar, dores musculares, cansaço e outros males. Assim, as pessoas, completamente desprotegidas da ferocidade do vírus, se afastariam umas das outras, se reuniriam em pequenos grupos em que todos estivessem não contaminados e evitariam o contato com indivíduos de fora.

Para sobreviver tendo o mínimo de interação, as pessoas voltariam ao campo e viveriam, com os membros de seu grupo, em fazendas coletivas. Seria um retorno à Idade Média, só que sem feudalismo. As cidades seriam esvaziadas e os países se fragmentariam. Cada clã teria a sua própria lei. Sem estímulo para as grandes invenções, nem ambiente para isso, todos viveriam sem eletricidade, sem internet, sem telefone, sem automóvel e sem torcida nos estádios. Assim seria para sempre, porque, não havendo vacina, o vírus proliferaria e grassaria, lépido e impune. O mundo seria outro, seria rural, calmo e ignorante.

Portanto, acrescente o nome de Edward Jenner nas suas orações, hoje à noite. Ele foi um irresponsável ao arriscar a vida do filho do jardineiro. Mas, graças a ele, você tem um frízer para lhe gelar a cerveja e uma TV para ver os gols da rodada.

DAVID COIMBRA

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