sábado, 17 de abril de 2021


17 DE ABRIL DE 2021
SUSPEITA DE ALICIAMENT

Jovens gaúchas relatam ter sido vítimas de empresário

Duas jovens do RS estão entre as que relatam ter sido vítimas de suposto esquema de aliciamento e estupro de mulheres pelo qual o milionário Saul Klein, de São Paulo, é investigado. O caso é apurado pela Delegacia da Mulher de Barueri, município onde mulheres de diversos Estados frequentavam condomínio de luxo. Ao menos 32 alegam que foram exploradas e violentadas - o empresário nega.

Cinco anos após a filha viajar a São Paulo para avaliar uma proposta de trabalho como modelo, uma família convive com os traumas do suposto esquema. Por duas vezes, a jovem tentou suicídio e segue em tratamento. Juliana (nome fictício), modelo de classe média, sempre despertou a atenção pela beleza e chegou a ganhar concursos na área. A mãe acredita que o contato foi pelas redes sociais - a jovem, hoje com 18 anos, nunca quis dizer quem a levou a Barueri pela primeira vez.

- Ele se apropriou, entrou na vida e na cabeça delas, sabendo que eram psicologicamente frágeis. Ela me dizia: "Não quero mal dele. Ele acha que estamos lá por amor". Esse é o perfil das adolescentes que eles aliciavam. Elas ficaram presas naquela manipulação. Era perverso - diz a mãe.

Era comum, segundo a mãe, que a filha oscilasse momentos em que defendia Klein e nos quais relatava violências e humilhações. Ela nega que a filha tenha ingressado no esquema como sugar baby - versão apresentada pela defesa de que ele agia como sugar daddy (homem que sustenta jovens financeiramente, em troca de favores se­xuais e companhia). No período em que estava no condomínio, deveria mentir a profissão dos pais, a origem e algumas vezes até o nome. Juliana, conforme a mãe, desenvolveu anorexia e submetia-se a tratamentos como aplicação de botox. Até que passou pela segunda tentativa de suicídio, ainda mais grave.

- Os presentes dele eram roupas, sapatos, bonecas, bichos de pelúcia. Ele mexia nessa parte infantil delas. Isso que acho muito cruel. Ele agora se defende com a figura do sugar daddy. Mas está longe disso. É muito triste ver um filho teu se desmanchar. Não sei o que vai ser do futuro dela. Isso arrebentou com a vida dela e da família inteira. Era uma menina, cheia de sonhos. Hoje, não consegue se sentir confortável em lugar nenhum na vida. É um dano existencial muito grande - diz a mãe.

Apoio

O projeto Justiceiras - que dá suporte a mulheres que tenham sofrido violências - foi responsável por ouvir as mulheres, que passaram a buscar ajuda desde setembro. Quatorze procuraram o projeto, alegando terem sido vítimas de Klein. Elas passaram a receber assistência e foram ouvidas pelo MP. A Justiça determinou em novembro que o passaporte do empresário fosse apreendido e decretou outras medidas, como a proibição de que se aproximasse das vítimas. No fim do ano, o caso foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. Na sequência, mais 18 jovens buscaram o grupo. Foi aberto inquérito na Delegacia da Mulher de Barueri, que segue em andamento. Em razão do segredo de justiça, a Polícia Civil de São Paulo não informou se o empresário já foi ouvido.

Em 24 de fevereiro, a 2ª Vara Criminal de Barueri revogou as medidas cautelares de todas, ao considerar os argumentos da defesa de que Klein seria um sugar daddy. A defesa do empresário afirma que ele contratava empresa para agenciar as modelos e que ele é vítima de esquema de extorsão. A advogada Gabriela Souza, de Porto Alegre, que representa as vítimas, nega que a relação se desse desta forma e recorre da decisão. As jovens afirmam que tudo fazia parte de um esquema, no qual eram submetidas a humilhações e violências. Em setembro passado, uma dessas modelos, também do RS, cometeu suicídio.

- Ele se coloca como vítima de um grande complô de mulheres interesseiras. Tinha um staff para cometer crimes. E pessoas muito bem pagas para ficar em silêncio. Esse silêncio culminou na violência sexual sem tamanho que essas mulheres sofreram. O Judiciário coloca em dúvida a palavra de 32 vítimas e não protege a vítima, e sim o agressor - diz a advogada.

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