quarta-feira, 14 de abril de 2021



O alerta para o RS que vem da Fiocruz

Relatório cita risco de nova piora com base em altas taxas de hospitalização, mudança na faixa etária de vítimas e em mais dados

Apesar do atual momento de abril apresentar melhora em indicadores da covid-19 no Rio Grande do Sul, análise da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada no fim de semana alerta para risco de nova piora em Estados do Sul e do Centro-Oeste nas próximas semanas. O aviso da instituição tem como base as altas taxas de hospitalização, o grande número de mortos em relação ao total de contaminados e a mudança na faixa etária de vítimas, verificados de 21 de março a 3 de abril.

Em comparação à primeira semana de janeiro, cresceu em 1.218% o número de internações entre pessoas de 30 a 39 anos e em 1217,9% o de adultos entre 40 e 49 anos no Brasil. Houve também aumento nacional no número de mortes por coronavírus - 873% na faixa etária dos 20 aos 29 anos e 814% dos 30 aos 39.

Rio Grande do Sul e Estados como Rondônia, Amapá, Tocantins, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso e Distrito Federal apresentam as maiores incidências de covid-19 do país, segundo a Fiocruz. O índice de letalidade (pessoas diagnosticadas com coronavírus que morreram) foi, no Rio Grande do Sul, de 4,1%, o segundo maior do Brasil no período de análise, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 6,2%. A proporção é classificada como "muito alta" por médicos.

Entre o período de análise do relatório da Fiocruz e o momento atual, o cenário melhorou no Rio Grande do Sul graças à bandeira preta, avaliam analistas entrevistados por GZH. O problema é que não foi o suficiente para estabilização em patamares seguros.

A média de novos casos semanais é a 10ª mais alta do Brasil, segundo estatísticas do Comitê de Dados do Palácio Piratini (ver gráfico). Acima de 200 contaminações semanais por 100 mil habitantes, o indicador já é preocupante. O número de mortes segue em altos patamares, mas, após figurar durante semanas entre a primeira ou segunda maior mortalidade do Brasil, o Rio Grande do Sul está na nona posição.

A ocupação de UTIs públicas no Rio Grande do Sul apontada no relatório era de 90% e, ontem, estava em 87,1%. Já a ocupação geral, contando vagas públicas e privadas, era de 91,2% nesta terça- feira, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde.

Ponderações

O epidemiologista Daniel Villela, pesquisador do Observatório Fiocruz Covid-19 e um dos autores do relatório, diz que a ocupação dos leitos de UTI no Sul segue alta e que o ritmo de novos casos, apesar de melhorar, preocupa:

- Os novos pacientes que chegarem vão se somar aos pacientes que ainda estão sendo tratados. Os óbitos, um indicador que tem certa defasagem, ainda estão com estabilidade. É isso o que preocupa: a estabilidade em nível alto não é boa.

Villela ressalta o destaque da Fiocruz no relatório sobre aspectos a serem resolvidos por governos: "Os valores elevados de letalidade revelam graves falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde nesses Estados, como a insuficiência de testes diagnóstico, identificação de grupos vulneráveis e encaminhamento de doentes graves".

A análise desconsidera a melhora no Rio Grande do Sul nos dias após a publicação do relatório, diz o médico epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, gerente de risco no Hospital de Clínicas de Porto Alegre:

- Se o estudo da Fiocruz aponta para aumento de óbitos, por outro lado aponta para a consequência de um cenário de mortes ocasionadas por interações que aconteceram 30 dias antes de 21 de março e 3 de abril. De lá para cá, temos tendência de redução de casos e internações hospitalares.

O cenário atual é como o de uma casa alagada após muita chuva e rios transbordados, explica Suzi Camey, professora de Epidemiologia da UFRGS. A água começou a baixar, mas o problema não está resolvido, explica:

- Do jeito que a curva vem se comportando, a queda pode facilmente ser revertida em uma subida.

 MARCEL HARTMANN 

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