O Silêncio que Abraça
Há gestos que dizem mais do que qualquer palavra.
E há silêncios que, quando se transformam em abraço, falam a língua mais pura
da ternura. O abraço é o idioma antigo do afeto - nascido antes das letras,
sobrevivente aos séculos, eterno tradutor daquilo que o coração sente, mas a
voz não ousa pronunciar.
Tem abraços de todo jeito, todo tamanho, e que
significam tantas coisas. Há os que acolhem e os que despedem, os que selam
reencontros e eternizam saudades. Cada abraço é um instante sagrado em que duas
almas se tocam e o mundo, por um breve segundo, parece caber entre dois
corações em compasso.
Há o abraço que diz: “Sou muito feliz porque
tenho a sua amizade.” É leve, quase infantil, repleto de risadas e
cumplicidade. Dissolve distâncias, desfaz invernos, faz da presença uma
primavera constante. Há o abraço que murmura: “Tenho orgulho de você.” Firme,
cheio de alma, traz o brilho da admiração e o respeito que não se diz - é
reconhecimento que se faz calor.
E há o abraço raro, aquele que sussurra: “Não
existe no mundo ninguém como você.” Esse, sim, é eterno. Nasce da ternura,
vive da saudade, e faz do tempo uma pausa em que o amor se demora.
Há o abraço manso, aquele que consola. Chega
devagar, sem pressa, e permanece o quanto for preciso. É o abraço do “sinto
muito”, que não promete apagar a dor, mas promete companhia até que ela se
torne suportável. É o gesto que entende que o simples “estar junto” é, por si
só, um ato de amor.
Tem também o abraço de urso - forte, quase
esmagador, mas que faz a alma sorrir de tão viva. E há o “abração”, cheio de
alegria, um grito de contentamento transformado em gesto. Todos eles têm suas
razões, suas linguagens próprias, suas verdades que o corpo guarda e o coração
entende.
Mas há um tipo de abraço que ultrapassa todos os
outros: aquele que, mesmo sem presença física, ainda diz silenciosamente: “Estou
sempre pensando em você.” É o abraço da lembrança, o abraço do pensamento,
aquele que viaja sem corpo, mas chega com a emoção inteira de quem sente. É o
abraço da alma — nascido da saudade e sustentado pela esperança.
E mesmo que o tempo passe, que as prioridades
mudem, que as ausências se multipliquem, há sempre um abraço reservado para
quem mora dentro da gente. Ainda que o outro não perceba, que se distraia com a
pressa do mundo, ou nos relegue a planos distantes, há sempre um gesto
invisível pronto a ser dado, um abraço que parte em silêncio como um recado de
amor sem destinatário certo.
Porque, no fundo, todo abraço é uma forma
de eternidade. É o instante em que o amor deixa de ser sentimento e se
torna presença. É o milagre cotidiano de dois mundos que se encontram e se
entendem sem precisar dizer palavra alguma. E talvez seja por isso que, mesmo
em meio à pressa dos dias e ao frio das horas, nada aquece tanto quanto o
simples ato de se permitir abraçar - e de ser abraçado.

Nenhum comentário:
Postar um comentário