quarta-feira, 5 de novembro de 2025

 

O Silêncio que Abraça

Há gestos que dizem mais do que qualquer palavra. E há silêncios que, quando se transformam em abraço, falam a língua mais pura da ternura. O abraço é o idioma antigo do afeto - nascido antes das letras, sobrevivente aos séculos, eterno tradutor daquilo que o coração sente, mas a voz não ousa pronunciar.

Tem abraços de todo jeito, todo tamanho, e que significam tantas coisas. Há os que acolhem e os que despedem, os que selam reencontros e eternizam saudades. Cada abraço é um instante sagrado em que duas almas se tocam e o mundo, por um breve segundo, parece caber entre dois corações em compasso.

Há o abraço que diz: “Sou muito feliz porque tenho a sua amizade.” É leve, quase infantil, repleto de risadas e cumplicidade. Dissolve distâncias, desfaz invernos, faz da presença uma primavera constante. Há o abraço que murmura: “Tenho orgulho de você.” Firme, cheio de alma, traz o brilho da admiração e o respeito que não se diz - é reconhecimento que se faz calor.

E há o abraço raro, aquele que sussurra: “Não existe no mundo ninguém como você.” Esse, sim, é eterno. Nasce da ternura, vive da saudade, e faz do tempo uma pausa em que o amor se demora.

Há o abraço manso, aquele que consola. Chega devagar, sem pressa, e permanece o quanto for preciso. É o abraço do “sinto muito”, que não promete apagar a dor, mas promete companhia até que ela se torne suportável. É o gesto que entende que o simples “estar junto” é, por si só, um ato de amor.

Tem também o abraço de urso - forte, quase esmagador, mas que faz a alma sorrir de tão viva. E há o “abração”, cheio de alegria, um grito de contentamento transformado em gesto. Todos eles têm suas razões, suas linguagens próprias, suas verdades que o corpo guarda e o coração entende.

Mas há um tipo de abraço que ultrapassa todos os outros: aquele que, mesmo sem presença física, ainda diz silenciosamente: “Estou sempre pensando em você.” É o abraço da lembrança, o abraço do pensamento, aquele que viaja sem corpo, mas chega com a emoção inteira de quem sente. É o abraço da alma — nascido da saudade e sustentado pela esperança.

E mesmo que o tempo passe, que as prioridades mudem, que as ausências se multipliquem, há sempre um abraço reservado para quem mora dentro da gente. Ainda que o outro não perceba, que se distraia com a pressa do mundo, ou nos relegue a planos distantes, há sempre um gesto invisível pronto a ser dado, um abraço que parte em silêncio como um recado de amor sem destinatário certo.

Porque, no fundo, todo abraço é uma forma de eternidade. É o instante em que o amor deixa de ser sentimento e se torna presença. É o milagre cotidiano de dois mundos que se encontram e se entendem sem precisar dizer palavra alguma. E talvez seja por isso que, mesmo em meio à pressa dos dias e ao frio das horas, nada aquece tanto quanto o simples ato de se permitir abraçar - e de ser abraçado.

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