
Riscos bilionários com danos a rios voadores
A uma semana da COP30, depois de a Terra ultrapassar sete de nove limites para manter um ecossistema estável e sustentável, aumenta a sensação de urgência para implementar acordos que começaram ainda na década de 1990. Juliano Assunção, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e diretor-executivo do Climate Policy Initiative, está no grupo dos otimistas, menos por avanços institucionais no âmbito do Acordo de Paris e mais pela construção de mecanismos paralelos.
Defensor do financiamento da restauração de florestas por meio de crédito de carbono, diz que é preciso acelerar as soluções porque vários ecossistemas estão próximos do ponto de não retorno, com consequências que os gaúchos conhecem bem.
- É uma janela nos próximos 20, 30 anos. Depois, aguardo ansiosamente que o mundo desenvolva tecnologia de captura de carbono efetiva que nos tire dessa enrascada.
Mercado de carbono global é essencial
Assunção considera essencial ter contabilidade de carbono unificada, "que todo mundo entenda, seja barata e implementável". Pondera que a demanda por captura tende a se concentrar em países de alta renda, mas o potencial de oferta de créditos está nos países em desenvolvimento, com renda mais baixa, os que têm florestas tropicais.
Outro projeto de Assunção é a medição dos "rios voadores", que ajudam a irrigar a agricultura no RS:
- Restaurar a Amazônia pode gerar recursos importantes, proteger o setor elétrico, a agricultura, o abastecimento de água nas grandes cidades. Estimamos que só Belo Monte e Itaipu, as duas maiores hidrelétricas do país, perdem algo como R$ 1 bilhão de receita por ano com o desmatamento da Amazônia.
O economista diz que o foco é engajar o setor produtivo:
- O provável impacto da redução dos rios voadores vai se dar na segunda ou terceira safra. E, se todos precisarem de irrigação, haverá pressão enorme sobre o lençol freático. Há consequências da interrupção do serviço ecossistêmico da Amazônia na regularização do ciclo de chuva, que é muito tangível para os brasileiros.
Inflação pisca para corte de juro em 2026
A semana da penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) começou com uma piscada da inflação à certeza de corte no juro básico só em 2026. No Relatório Focus, a estimativa para o IPCA deste ano ficou a 0,05 ponto percentual da margem de tolerância da meta. A maioria entre cerca de cem economistas projeta que a inflação feche o ano em 4,55%, na sexta semana seguida de redução.
Se nada fora de cenário ocorrer, é possível que o ano termine com juro de 15% e inflação dentro da meta. Não é uma combinação óbvia em um país marcado por inquietação com as dívidas de empresas. Sem mudança forte no cenário, é possível que a inflação fique dentro da margem de tolerância - 1,5 ponto percentual acima ou abaixo da meta de 3% - ainda neste mês. Dezembro é sempre um mês que embute risco cambial: é quando as multinacionais que operam no Brasil enviam lucros para suas matrizes no Exterior. Isso provoca aumento na procura por dólar e pode pressionar o câmbio se a situação não estiver muito tranquila, como ocorreu no final de 2024 assombrado pelo fracasso do pacote de corte de gastos.
A combinação entre IPCA migrando para dentro da tolerância e a taxa básica nas alturas faz com que o juro real (Selic com inflação descontada) seja um dos maiores da história do Brasil: está ao redor de 9,51% ao ano. É o segundo maior do mundo, atrás apenas da Turquia. E tende a crescer se os preços de fato seguirem se acomodando. _
Esperança para a escassez de chips
Na semana passada, a indústria automotiva nacional lançou um alerta: outra vez, havia risco de escassez de chips para entregar carros, como na pandemia. Em outubro, o governo holandês assumiu o controle da Nexperia, gigante produtora de semicondutores com sede no país e subsidiária de um grupo chinês. Em represália, a China restringiu exportações de semicondutores produzidos por essa empresa em seu território.
Ontem, o governo brasileiro informou ter aberto canal de negociação com o chinês a pedido da associação das montadoras no Brasil, a Anfavea. O caminho seria permitir que empresas brasileiras obtenham licenças especiais para importar chips caso enfrentem dificuldades devido a embargos internacionais.
O episódio reforça a dependência da indústria nacional desse insumo que se tornou essencial. A indústria estima que cada veículo produzido embarque entre mil e 3 mil semicondutores, dependendo da sofisticação da tecnologia.
O acordo prevê autorizações "caso a caso" para que as montadoras brasileiras importem chips sem interrupções. Antes disso, havia risco de paralisação na produção de veículos em um período do ano que costuma ter alta procura.
Boas e más notícias para Brasil em ranking global
Há boas e más notícias para o Brasil na edição 2025 do ranking de Competitividade Digital. A boa é que o país subiu quatro posições; a ruim é que, mesmo assim, ocupa um embaraçoso 53º lugar entre 69 países analisados. A avaliação é feita pela IMD World Competitiveness Center (WCC), com parceria da Fundação Dom Cabral. O último colocado (69º) é a Venezuela.
O Brasil teve melhora nos três principais fatores avaliados: em tecnologia, subiu dois degraus, para a 58ª posição; em conhecimento, ficou na 56ª lugar; e, em prontidão para o futuro, avançou três posições e alcançou a 50ª. Na avaliação dos autores, o resultado indica recuperação gradual do país.
Na avaliação por segmentos, o país tem a melhor posição (9ª) em "produtividade de publicações por pesquisas", mas também surpreende com um 16º lugar em investimentos privados em inteligência artificial e um 17º em número de robôs em educação e pesquisa e desenvolvimento.
Mais preocupante é a área em que o país tem a pior colocação, a 68ª, ou seja, penúltima: talentos. Conforme os autores, embora se gaste bastante com educação, isso não é traduzido em qualidade educacional.
Entre os pontos de atenção, estão ainda prática de transferência de conhecimento (65º), disponibilidade de capital de risco, experiência internacional e gestão das cidades, todos na 64ª posição. No primeiro, a FDC observa que Suíça e Canadá, no topo do ranking, criaram ecossistemas colaborativos que aproximaram ciência, indústria e governo, mas o Brasil não tem política estruturada nessa área.
O que é competividade digital
É a capacidade de adoção e exploração de tecnologias digitais que levam à transformação de práticas governamentais, modelos de negócios e na sociedade. O ranking combina dados objetivos de instituições como Banco Mundial e OCDE e pesquisa de opinião com executivos e especialistas. O objetivo é orientar políticas públicas e decisões estratégicas. _
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