Jaime Cimenti
Sorria, ria A humanidade sempre foi mais para séria.
Os palhaços, os bem-humorados, os risonhos, os comediantes e os demais integrantes da galera do riso sempre ficaram em segundo plano e alguns bobos da corte foram até assassinados. Há pouco, o Cirque Du Soleil montou um espetáculo que tratava da morte de um palhaço. Comédia e comediantes não levam Oscar, Hollywood se faz de séria. Humoristas, por vezes, são agredidos e mortos, como os do triste episódio do Charlie Hebdo, em Paris. Humoristas, aliás, em geral são sérios e vários se suicidaram.
Carlitos, o maior palhaço, é uma das grandes, honrosas exceções, que confirmam a regra. Penso nessas coisas depois do domingo à noite, momento às vezes triste, que nos lembra os problemas da segunda-feira, quando dei de cara com a escultura do Buda Que Ri na sacada, escondido atrás das plantas.
Com seu barrigão, seu colar de contas e o saco às costas, ele sorria no escuro, sozinho, não estava nem aí para a desgraceira da Lava Jato e outras agruras do Fantástico. O Buda Risonho, notei, apenas ria. Conta uma história que, no Japão, ele ia de um lugar para outro rindo. Seu riso cativante, contagiante, verdadeiro, balançava seu barrigão e o fazia rolar no chão. Nunca pronunciou uma palavra - seu sermão era o riso.
Quando perguntavam sobre Buda, vida e morte ou iluminação, ele apenas ria. Nas aldeias, as pessoas esperavam por sua presença, bênçãos e alegria. Buda Que Ri é pouco lembrado e nem é citado na Wikipédia. Ao menos se tornou tema de empresa famosa de confecção e comércio, que leva seu nome. Rir é o melhor remédio, não custa repetir o adágio popular. Se as pessoas fossem mais bem-humoradas, risonhas e leves, o mundo seria melhor. Não há fanáticos, extremistas ou radicais bem-humorados. O mundo precisa de amor, paz e humor.
O mundo precisa de sorrisos, de risos, de gargalhadas. O mundo precisa rir de seus próprios dramas, que não são poucos. Rir dos próprios problemas e dificuldades é certificado de boa saúde física e mental. A vida é uma graça triste, mas não pode ficar sem graça, sem alegria e descontração. Há quem possa estranhar de eu não estar falando agora nos bufões, nos palhaços, comediantes e reizinhos de nossa política. Eles não têm graça. São piadas prontas, sem graça, de péssimo gosto.
O povo vai rir por último. Ri melhor quem ri por último. Sorria, como diz a imortal canção Smile, de Charles Chaplin, e a preferida, dizem, de Michael Jackson. Sorria apesar das dores do coração ou de ele estar se quebrando, sorria ainda que o céu esteja nublado, bote um sorriso no rosto e alegre-se apesar de tudo, sorria que a vida ainda vai valer a pena. Sorria mesmo que você se preocupe com o sonho brasileiro mais uma vez adiado e com o fato da gente continuar sendo o País do Futuro. Um dia, a piada norte-americana "Brazil is the country of the future.and always will be" vai dançar.
lançamentos
Simões Lopes Neto para o mundo (Editora da Ufrgs, 282 páginas), organizado por Luís Augusto Fischer, Rosalia Neumann Garcia e Karina de Castilhos Lucena, traz traduções de contos do clássico autor gaúcho. Contrabandista, Chasque do Imperador, Os cabelos da china e outros contos foram traduzidos para o francês, espanhol, inglês, italiano, russo e japonês. Estão acompanhados por textos dos tradutores. Jane Tutikian, Fischer e Rosália assinam os textos introdutórios.
A metamorfose (Via Leitura, 96 páginas, R$ 24,90, tradução de Christina Wolfensberger), do genial escritor Franz Kafka, nascido em Praga em 1883, é considerada uma das obras fundamentais do século XX. Gregor Samsa, homem comum, caixeiro-viajante, acorda transmutado num terrível inseto e por aí vai a surreal, "kafkeana" história, despida de humanidade e que inquieta a todos, desde a primeira edição em 1915.
O chefe de Gregor vai até sua casa e aí... Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá (Ateliê Editorial, 264 páginas), romance do grande escritor e jornalista Lima Barreto, tem apresentação, estudo introdutório e notas de Marcos Scheffell, também responsável pelo estabelecimento de texto com José de Paula Ramos Jr.
A narrativa gira em torno do obscuro funcionário, culto e sensível, em meio à modernização do Rio de Janeiro, no início do século XX. Inadaptado, questiona, critica e pensa sobre as transformações da cidade.
a propósito...
Para sorrir, movimentamos uns 12 músculos. Para fazer cara de bunda, emburrada, mexemos 50 músculos. Melhor sorrir, enruga menos, é mais saudável.
Ensinamento de Conceição Trucom: quando tiver tempo, relaxe o maxilar inferior, feche os olhos, abra levemente a boca, respire lento, superficial, pela boca e quando respirar ainda mais superficial, muito artificial, vai sentir um sorriso existencial que se espalha por dentro. Seu ventre vai sorrir. Não tem explicação. Não é risada, é sorriso. Delicado, frágil, tipo flor desabrochando. Você vai ficar feliz por 24 horas. Se perder a felicidade, feche os olhos e pegue o sorriso interior de volta.
Quantas vezes quiser. Sorria para a vida, que ela sorri para ti. - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/08/colunas/livros/576992-direita-esquerda-origem-da-divisao.html)
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