quarta-feira, 30 de agosto de 2017



30 DE AGOSTO DE 2017
ARTIGO

QUAL É A NOSSA COR?

Há alguns anos, minha filha estava fazendo uma tarefa para a escola e perguntou: "Qual é a minha cor?", eu disse que era branca e ela disse que não, que era amarela. Explicou que tinha que desenhar e pintar a si mesma, e era complicado usar o lápis branco. Ela achava que a cor mais parecida com a sua era o amarelo. 

Tivemos uma conversa parecida no último fim de semana. Uma atividade no livro da escola pedia que os alunos definissem sua cor, e ela quis saber o que era pardo. Eu disse que era uma cor entre branco e negro. "Então eu sou parda", ela disse. Eu ia argumentar que ela era branca, pelos parâmetros convencionais, mas achei melhor dizer que podia ser da cor que quisesse. Hoje, ao preencher o requerimento do passaporte, tive que definir minha cor também.

Os comentários racistas sobre a nova Miss Brasil e os recentes conflitos nos Estados Unidos me fizeram pensar sobre o assunto. Se queremos uma sociedade mais igualitária e justa, seria melhor enfatizarmos as semelhanças em lugar das diferenças. Acho que, para as crianças, catalogar as pessoas pela cor da pele não faz sentido. 

E penso que a escola não precisa incentivá-los a observar o que os distingue uns dos outros. Talvez eu desconheça a razão pedagógica para isso. Assim como deve haver uma razão para os órgãos públicos perguntarem a cor de quem solicita um documento de identificação. No entanto, no momento em que chamamos a atenção para um detalhe na aparência, queremos dizer que isso importa, que tem relevância.

Lembrei de uma entrevista veiculada em julho na ZH, com o doutor Sérgio Pena, em que ele explica que nossa herança genética nem sempre pode ser percebida na nossa aparência e defende que raças não existem, ao menos do ponto de vista genético. Então, qual o sentido de definirmos nossa cor? Será que catalogar as pessoas conforme esse quesito é relevante? 

Deixar de declarar a cor não vai eliminar o racismo, obviamente. Mas deixar de enfatizar esse aspecto pode ser um passo para nos percebermos além das diferenças, para nos enxergarmos mais iguais.

Economista tfmotta@hotmail.com

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