quinta-feira, 10 de agosto de 2017



Diretor da Procempa se demite do cargo

GESTOR É INVESTIGADO por eventual conflito de interesse e improbidade administrativa

Diretor técnico da Procempa e presidente do Conselho de Administração da Carris, Michel Costa entregou ontem carta de demissão ao prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan. A saída ocorre 26 dias após reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) revelar que a Safeconecta, empresa da qual Costa é sócio, era a única a fazer testes de monitoramento de ônibus via GPS na própria Carris. Essa fase precede o lançamento de licitação para aquisição definitiva do serviço. Em um contrato de cinco anos, a prefeitura estimou que o negócio deve variar entre R$ 9 milhões e R$ 12 milhões.

A coordenação dos projetos era de Costa, que deixa a função ?a fim de garantir transparência nas avaliações do município e de seus órgãos de controle?, disse a prefeitura, em nota.

O governo ainda anunciou que ?a diretoria-técnica da Procempa será acumulada pelo presidente da companhia, Paulo Roberto Miranda. No Conselho de Administração da Carris, assumirá, neste momento, o suplente Cássio Mattos?.

? Ele vinha fazendo um serviço de TI importante para o município. Mas o mercado tem outras pessoas qualificadas para tocar esses projetos ? avaliou o vereador Clàudio Janta (SD), líder do governo na Câmara.

A administração municipal disse que a contratação do monitoramento de ônibus por GPS será feita diretamente pelas empresas de ônibus ? uma mudança ao plano anterior à publicação das reportagens, quando a ideia era fazer licitação única pela prefeitura para todo o sistema.

CONFIANÇA DO PREFEITO DURANTE A CAMPANHA

Empresário de TI, especializado em meios de pagamento e monitoramento, Costa é sócio de mais de uma dezena de startups do ramo. Ele conquistou a confiança de Marchezan ainda durante a campanha de 2016, quando a OWL Gestão e Tecnologia, que o tinha como sócio, coordenou as redes sociais do então candidato.

Depois, a mesma empresa desenvolveu e registrou o Banco de Talentos, uma das principais vitrines de Marchezan. Vencido o pleito, o prefeito entregou a Costa uma das tarefas prioritárias da gestão: avaliar e contratar tecnologias que modernizassem a cidade. As pressões sobre o empresário e gestor público agravaram-se quando outra reportagem do GDI revelou que a OWL, no segundo semestre de 2016, prestou um serviço de protocolo ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). O contrato, apontou a Contadoria e Auditoria- Geral do Estado (Cage), teria sobrepreço de R$ 422 mil. A seleção de prestadora de serviço, via cartas-convite, foi feita com a participação de cinco empresas dos mesmos proprietários ? incluindo Costa. 

Ele passou a ser, desde a revelação de que a Safeconecta fazia testes na Carris, investigado por Ministério Público (MP), Ministério Público de Contas (MPC) e por uma comissão da Procuradoria Geral do Município (PGM). No caso do Daer, também há apurações do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e uma sindicância do governo estadual. 

Um depoimento de Costa havia sido marcado para acontecer na Câmara Municipal no dia 17. Janta acredita que a sessão não será mais necessária. O mesmo não ocorrerá com o MP e o MPC, que asseguraram o prosseguimento das investigações para averiguar se Costa incorreu em conflito de interesse e eventual improbidade administrativa.

? O projeto de tecnologia do Marchezan e a sua relação com empresários do ramo estão sob suspeita. As empresas desse senhor (Costa) vão continuar trabalhando para o governo? Seria uma saída conveniente. O governo ainda deve explicações ? avaliou o vereador Roberto Robaina (PSOL).

Em reunião com Marchezan, Costa entregou a carta de demissão. Procurado pela reportagem, disse que estará à disposição para falar a partir de terça.

carlos.rollsing@zerohora.com.br

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