terça-feira, 15 de agosto de 2017


O rato pariu uma montanha (de streaming)

Divulgação
Bruce (ao centro) e seus parceiros; personagens de 'Procurando Nemo', sucesso da Disney/Pixar que está no catálogo da Netflix
Personagens de 'Procurando Nemo', sucesso da Disney/Pixar que está no catálogo da Netflix
Netflix é daquelas empresas que definem uma era ou um movimento. Ela começou enviando DVDs por e-mail aos seus assinantes, o que hoje a colocaria na ponta morta de sua indústria. Mas o que a movia não era o que ela fazia, e sim a ideia por trás do que ela fazia -enviar aos clientes conteúdos a que eles queriam assistir da forma mais eficiente e barata possível.

O Netflix continua fazendo a mesma coisa hoje, mas, em vez de colocar discos no correio, manda via streaming conteúdos dos mais diversos para mais de 100 milhões de assinantes em quase 200 países. É a força dessa sua grande e simples ideia que hoje está transformando todo o seu setor.

Na semana passada, a Disney, o maior conglomerado de mídia do mundo, se curvou à ideia de que enviar conteúdo via streaming é o futuro e anunciou seu próprio serviço, fazendo questão de ressaltar que, a partir de 2019, seus filmes não mais estarão na empresa rival. Não ficou muito claro ainda como a Disney fará essa transição, mas seu anúncio mexeu com todas as empresas da área. A ação da Netflix caiu, e as da Disney também.

Mas os preços das ações flutuam todo dia. O que importa mesmo é como a empresa desenvolverá seu novo modelo de distribuição, inclusive os ultralucrativos torneios esportivos. Como o próprio Walt Disney dizia: "O melhor jeito de começar é parar de falar e fazer".

O Netflix já está fazendo muitas coisas, inclusive invadindo a área de produção de conteúdo tão cara à Disney. A empresa vem faturando prêmios e mais prêmios desde que começou a produzir conteúdo próprio, como sua primeira série original, a espetacular "House of Cards".

Hoje o Netflix chega a valer mais na Bolsa do que companhias gigantescas e tradicionais do setor, como 21st Century Fox e Viacom. O Netflix já vale tanto que emprestou seu N para criar o acrônimo Fang, que define as gigantes de tecnologia com valorização extraordinária no mercado: Facebook, Amazon, Netflix e Google.

Por isso, hoje, quando se fala de Disney, uma empresa (e um espírito) que admiro desde criancinha, precisamos falar também de Netflix. E de Amazon, Google (dono do YouTube) e Facebook. São gigantes que investem cada vez mais nos canais de distribuição e produção de conteúdo.

E quem ganha com isso? O consumidor, que tem mais opções de assistir a seus vídeos onde e como quiser a preços cada vez mais competitivos. E também os produtores de conteúdo. Já há uma disputa acirrada na praça pelas melhores ideias, roteiros, diretores, atores e produtores. Gente de enorme talento como Will Smith, Kevin Spacey, Adam Sandler e os irmãos Cohen já estão trabalhando para a Netflix.

E, comprovando a força de uma grande ideia, que sempre se multiplica em outras grandes ideias, a empresa reinventou não só a forma de entrega mas também a forma de consumir seus produtos, oferecendo a oportunidade de ver uma temporada inteira de séries, antes espalhada em meses, numa maratona de poucos dias —o "binge".

Novos modelos de negócios sempre trazem desafios. Uma pequena empresa de entrega de DVDs se tornou uma gigante mundial de mídia em cima de sua grande ideia. A Disney, a maior empresa do setor, finalmente reagiu a essa grande ideia de forma incisiva.


O ratinho simpático que pariu montanhas de personagens e histórias fantásticas ao longo de décadas terá agora que entrar num fluxo novo e, como o seu peixinho Nemo, encontrar seu melhor caminho.
Será uma temporada inédita e muito interessante. 

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