05 DE AGOSTO DE 2017
PIANGERS
Que seja um dia comum
Não tem a ver com casa de ferreiro mas, lá em casa, mais uma vez, comemoraremos o Dia dos Pais com constrangedora modéstia. Apesar de sermos escritores e falarmos sobre criação de filhos o tempo todo, eu e minha esposa temos um certo desdém pelas datas comemorativas. Não celebramos o Natal, a não ser pelos familiares; não damos presentes no Dia das Crianças, pelo que já me sinto julgado neste exato momento; e, uma vez, dormimos às nove da noite na virada do Réveillon.
Somos, portanto, chatíssimos. Acreditamos que a vida é mais divertida quando é uma busca constante por significado, não uma alternância entre a melhor festa da sua vida e Prozac terça à noite. A vida é deliciosamente chata, vamos ao supermercado, andamos de bicicleta, dormimos juntos quando a pequena tem medo, nosso fogão está com uma das bocas entupida.
Datas comemorativas são, por essa lógica, só mais um dia no calendário. São importantes para reflexão, mas não podem condensar todo o significado da celebração. Mãe e pai se é todos os dias, e são dias difíceis muitas vezes.
Você não virou pai porque postou foto no Instagram no segundo domingo de agosto. Você virou pai porque virou noites, trocou fraldas, correu desesperado pro médico na primeira febre, levou na creche e chorou no período de adaptação. Você virou pai quando viu crescer, andar, falar, se machucar. Você virou pai quando seus beijos curaram machucados, quando dormiu completamente desconfortável para que a criança dormisse bem. Você virou pai quando ajudou nas tarefas escolares, levou no pediatra, falou sobre sexo. Você virou pai quando viu que seu filho não é seu. Seu filho é dele mesmo.
O que vai definir se somos grandes pais não é a quantidade de Dias dos Pais que passamos juntos com nossos filhos, mas a quantidade de dias normais. A quantidade de dias úteis. A quantidade de tarefas de tarde, de apresentações escolares, de vezes que tivemos que faltar ao trabalho pra levar no médico.
No Dia dos Pais não espero presentes caros ou almoço extravagante. Quero abraços, como recebo todos os dias. Cartõezinhos escritos à mão, como os que já abarrotam minha carteira. Beijos de bom dia barulhentos, como os que já me acordam todas as manhãs.
A paternidade é a maior experiência humana. Nos faz mais sensíveis, mais generosos, mais humanos. Transforma nossa vida em algo encantado. Que dure mais do que apenas um dia.
PIANGERS
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