sábado, 5 de agosto de 2017


CARLOS HEITOR CONY

A terceira guerra

RIO DE JANEIRO - Amanheci no dia 11 de setembro de 2001 em Maringá (PR). Na véspera, fizera palestra numa faculdade local.

Na escala em Porto Alegre, onde iria me encontrar com o escritor Moacyr Scliar, vi na televisão uma cena de guerra, mas não dei importância. Estranhei apenas o horário -certos tipos de filme não passam de manhã.

Na capital gaúcha, Scliar me deu notícias e o celular logo tocou, era o editor da página A2. Eu já mandara a crônica para o dia seguinte e ele me perguntou se queria mudá-la. Disse que sim e o Scliar me perguntou sobre o que eu poderia escrever com tantas versões sobre o atentado ao WTC, em Nova York.

Sem pensar muito, respondi: "A terceira guerra mundial", que foi o título da crônica que escrevi no hotel. Pareceria exagero, mas argumentei que a nova guerra mundial seria diferente das outras duas -a de 1914 foi uma guerra de trincheiras, com motivações territoriais e econômicas; a de 1939, já com um pouco da tecnologia existente na época, foi para instalar no mundo uma raça dominante.

A terceira guerra seria desdobrada em diversas batalhas, a começar pelo terrorismo promovido a uma questão de vida e morte. Entre uma e outra batalha poderia haver lapsos de tempo, como convêm às guerrilhas. E não havia uma motivação clara de ordem econômica e territorial, mas uma luta de duas civilizações antagônicas.

Não seria exatamente uma guerra religiosa, mas de visões do mundo que se combatem radicalmente e continuarão a luta por tempo indeterminado.

Uma guerra com as massas querendo sangue e vitória. Foi a primeira vez em que George W. Bush se invocou no papel de chefe supremo das Forças Armadas e invadiu o... Iraque! Apelou para a mentira, mostrando como estava informado, mas lucrando com a possibilidade de uma guerra mundial.

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