quinta-feira, 17 de agosto de 2017



17 DE AGOSTO DE 2017
POLÍTICA

NO ESTADO, LAVA-JATO REVELA FRAUDE DE R$ 30 MILHÕES

SUSPEITA DE PROPINA E LAVAGEM DE DINHEIRO por consultorias e construtoras no Estado é investigada pela Operação Étimo, deflagrada a partir da 26ª fase da força-tarefa, a Xepa

Fraude estimada em pelo menos R$ 30 milhões em obras executadas com verba federal entre 2000 e 2011 no Estado deflagraram pela 10ª vez, a partir de investigações com origem na Operação Lava- Jato, ações da Polícia Federal (PF) em solo gaúcho. Mas as buscas e apreensões realizadas ontem para esclarecer esquema de propina e lavagem de dinheiro envolvendo consultorias fantasmas e empreiteiras formam a primeira ofensiva centrada no Rio Grande do Sul. Conforme a PF, dois irmãos investigados seriam os responsáveis, por meio de contratos fictícios, por lavar recursos no Panamá e na Suíça.

Os delegados que conduziram a Operação Étimo não revelaram quais obras estão sendo investigadas ? apenas confirmaram que já foram concluídas. Também não foram divulgados os nomes dos envolvidos, mas ZH apurou que os alvos são os irmãos Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro, doleiro conhecido como Tonico Cordeiro, e Athos Albernaz Cordeiro, engenheiro. A ação de ontem é desdobramento da 26ª fase da Lava-Jato, batizada de Xepa, realizada em março de 2016 e que apurava pagamento de suborno pela Odebrecht.

CONTRATOS DE ASSESSORIA FINANCEIRA SERIAM FALSOS

Conforme as investigações da Étimo, empreiteiras responsáveis por obras rodoviárias no Estado, financiadas com recursos federais, pagavam contribuições a duas associações de empresas do ramo. O valor da colaboração era percentual calculado sobre o custo de cada obra, o que despertou a desconfiança da PF.

Feito o pagamento, as associações de construtoras contratavam de forma fictícia serviços de assessoria financeira de ao menos três consultorias de fachada. Todas tinham o mesmo sócio, que atuava como doleiro. ZH apurou se tratar de Tonico.

Segundo a PF, as consultorias fantasmas tinham poucos funcionários e estrutura física precária, o que não condizia com os valores recebidos ? até agora, foram identificados pagamentos que somam ao menos R$ 30 milhões. O dinheiro seria sacado por Tonico, em espécie, e enviado para contas no Panamá e na Suíça.

? É o mesmo esquema descoberto na Lava-Jato, com a novidade das entidades associativas, que foram usadas para dificultar o rastreamento do dinheiro ? disse Alexandre Sbarrola, delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros.

BUSCAS EM ASSOCIAÇÃO DE EMPREITEIROS NA CAPITAL

A delegada responsável pela investigação, Ilienara Cristina Karas, afirma que a quantia elevada indica o possível envolvimento de funcionários públicos. Há ainda a suspeita da existência de fraudes em obras feitas com recursos do Estado, uma vez que as empresas investigadas tinham histórico de firmar contratos com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul (Daer). Não foi descartada a continuidade o esquema após 2011.

Na ação de ontem, a PF fez buscas e apreensões (não houve mandado de prisão) em Porto Alegre, Canoas, Glorinha e Brasília (DF). A expectativa era reaver R$ 2 milhões em espécie, mas não houve confirmação de quanto foi localizado. Oito agentes em duas viaturas chegaram às 6h para fazer buscas no oitavo andar do Edifício Coliseu, na Praça Oswaldo Cruz, centro da Capital.

Funcionam no prédio duas entidades que reúnem empreiteiras: uma é a Associação Riograndense de Empreiteiros de Obras Públicas (Areop), alvo da operação, da qual Athos é presidente ? ele também é ex-presidente da outra, mas não foi confirmado se também é investigada.

Os irmãos, suspeitos de corrupção ativa e passiva, foram ouvidos ontem pela PF. Após a análise da documentação, o inquérito deve ser concluído em até 60 dias.

Especial
MARCEL HARTMANN

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