21 DE AGOSTO DE 2017
CELSO LOUREIRO CHAVES
O LIVRO DO TOM
Está nas livrarias Maestro Soberano - Ensaios sobre Antonio Carlos Jobim, publicado pela Editora da UFMG. Livros sobre a canção brasileira não chegam a ser raros e o primeiro volume da trilogia recém iniciada de Lira Neto sobre a história do samba é um deles. Biografias de compositores também não são raras. O próprio Tom Jobim foi biografado por Sérgio Cabral num livro que se tornou clássico. Livros monográficos com ensaios sobre um único compositor é que são bem mais raros e aí entra esse Maestro Soberano.
Nem sempre Tom Jobim foi um compositor consensual na música brasileira e houve até um período, ali pelos anos 70 do século passado, que já ninguém queria saber dele. Depois houve a transformação de Tom em mito e se apagaram um pouco das discussões - e até o descaso - que havia sobre ele, sua música, suas convicções. Como a chamada música popular brasileira também se transformou num dos muitos nichos em que se dividiu a canção brasileira, hoje Tom Jobim é presença inevitável ali naquele nicho - presença soberana, mesmo.
O Maestro Soberano - Ensaios sobre Antonio Carlos Jobim olha para Tom em várias claves - sol, dó, fá e outras tantas que existem. Ou seja: das canções à literatura, da ecologia à arquitetura, da bossa nova à conservação do acervo, está tudo ali. Até um ensaio meu acontece lá a folhas tantas, na terceira vez que escrevi sobre Matita Perê, canção de 1973 que sempre foi uma das minhas obsessões, de tão diferente de tudo que Tom produziu antes e depois. Ana Lontra Jobim também está presente nos ensaios e a inesquecível Santuza Cambraia Naves, grande teórica da música brasileira, comparece com um dos seus derradeiros ensaios.
O livro é cheio de ilustrações tiradas diretamente dos materiais autorais de Tom Jobim conservados no instituto que hoje leva o seu nome. São fotos, manuscritos, letras, músicas, quase um contato direto com o criador e seu processo de criação. Até o manuscrito da letra de Matita Perê foi incluído. Bem interessante esse documento: depois de ler todas as harmonias por onde a canção passa nos seus quase oito minutos, alguém escreveu o que fica sendo uma homenagem ao próprio Tom Jobim e a completeza da sua música: "Grau dez!!!!....".
cglchave@portoweb.com.br
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