sexta-feira, 18 de agosto de 2017



Jaime Cimenti

Elegância 

Segundo os dicionários, elegância é uma harmonia caracterizada pela leveza e facilidade na forma e movimento, envolvendo eficácia e simplicidade. Donaire, garbo, bom gosto, distinção, delicadeza e graça são sinônimos. Elegância vem do latim, "elegantia" ou "elegans", e é uma forma bela de agir, demonstrar e expressar sentimentos. Antigamente, elegantes eram as pessoas exigentes, que escolhiam muito e não aceitavam facilmente o que lhes apresentavam.

Há quem diga que se nasce elegante. Outros acham que se você não é a Costanza Pascolato, o Obama ou o Paulinho da Viola, três elegantes de raiz, ainda assim dá para aprender a ser elegante. Elegância é difícil de ser ensinada e anda meio rara, mas vale a pena tentar, para melhorar a convivência e o planeta. A internet amplificou a importância da imagem, e aí a elegância perdeu terreno.

Quase tudo virou business, e até as estrelas de cinema e as celebridades em geral por vezes não dão a mínima para aparência, gestos, postura, educação, vestuário e outras características da elegância. Livros de etiqueta - que faz parte da elegância - estão meio em baixa, com exceção daqueles mais voltados para o sucesso pessoal e para o ambiente corporativo. Sempre é bom lembrar que elegância é ser simples, espontâneo, verdadeiro. É elogiar mais do que criticar, ouvir mais do que falar e não fazer muita fofoca e comentários maldosos. Falar baixo, olhar nos olhos das pessoas, chamá-las pelo nome e tratar todo mundo bem, desde o mendigo até o Papa, é ser elegante.

Dar o lugar, dar um sorriso, dizer desculpe, obrigado e com licença, presentear fora de hora, oferecer flores e abrir portas faz parte da elegância. Gestos comedidos, ajudar os outros, não ficar monologando sobre doenças, desgraças e desafetos, respeitar as regras do grupo e ser ousado sem radicalismos, isso é elegância. Elegância não é só saber utilizar garfo e faca, usar a roupa certa e saber se comportar. Elegância é ficar feliz com a felicidade dos amigos, não achar que "com amigo não tem que ter estas frescuras".

Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que vão desfrutá-la, é bom saber. Ser elegante não tem a ver só com nariz empinado, joias, roupas de grife, iates, carrões, mansões e sobrenome, e isso tudo não substitui os gestos e as palavras elegantes. Elegância tem mais a ver com ser gentil, delicado, útil e polido, e ter saúde, sabedoria e solidariedade. Ser elegante é não ficar contando vantagem, não falar em dinheiro em conversas informais e fazer algo por alguém, e este jamais saber o que você teve que se arrebentar para fazê-lo.

Elegância é não ficar espaçoso demais nem mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. Elegância é oferecer silêncio diante de uma rejeição e retribuir o carinho, os abraços recebidos e o apoio. Elegante foi aquela senhora que estava com três empregadas no palacete e ela mesma foi preparar e servir sanduíches para os filhos e amigos. Elegante foi aquele vendedor de bala da esquina, que, quando recebeu um presente de Natal de um estranho que estava dirigindo um carro, ofereceu algumas balas como retribuição. Pequenos gestos, grande elegância.

a propósito...

Entre a rapidez dos gestos da comédia e a lentidão dos gestos da tragédia, que tal a serenidade elegante de encontrar o tempo necessário para você ter o domínio da sua presença? Tempo para entrar na vida, nos lugares e nos espaços dos outros suavemente, sorrindo, mostrando sua alegria e sua gratidão por estar vivo, compartilhando o positivo e entrando como se os sinos saudassem sua chegada. Que tal respeitar a você mesmo, se gostar e perceber que você, que é um e único, humildemente, significa tanto para que o mundo seja melhor, mais bonito e elegante? -

Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/08/colunas/livros/579332-o-pt-por-completo.html)

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