Barbárie em grupo
Aluna da USP que afirmou ter sido estuprada durante festa na universidade |
Se o estupro é um crime típico do homem covarde, praticado de forma coletiva ele desce ao grau mais abjeto de selvageria. Para vergonha nacional, vêm agora à tona dados sobre sua escandalosa prevalência no Brasil. São pelo menos dez por dia, e provavelmente muito mais, revela reportagem publicada neste domingo (20) pela Folha.
As estatísticas policiais não discriminam os casos em que essa violência contra a mulher é praticada por um só autor ou vários. Desde 2011, os dados se tornaram de notificação compulsória por serviços de saúde, que enviam detalhes para o Ministério da Saúde. As ocorrências ficam armazenadas no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). A análise empreendida por este jornal sobre os números inéditos revelou que os estupros coletivos notificados saltaram de de 1.570, em 2011, para 3.526, em 2016.
O total anual de notificações, tanto de casos praticados por indivíduos isolados quanto os de grupo, monta a 22.804 (2016). A modalidade coletiva, portanto, representa pouco mais de 15% dos ataques conhecidos –e mais que dobrou no intervalo considerado.
Só isso já bastaria para desencadear uma onda de repulsa, mas há que considerar ainda a notória propensão das vítimas a não denunciar tais delitos e a evitar o atendimento médico. Estima-se que apenas um décimo dos casos termine em registros policiais.
Mesmo que a subnotificação seja menor nas estatísticas obtidas do Sinan, parece evidente que elas não abarcam todo o universo de agressões sexuais contra mulheres. Também é possível que a repercussão de casos chocantes nos últimos anos (como o vídeo da menina estuprada no Rio de Janeiro que circulou em maio) tenha contribuído para aumentar notificações. Ainda assim, os números não soam menos acabrunhantes.
Há mais: 40% das vítimas dos estupros coletivos são crianças. O restante se reparte em 24% de adolescentes e 36% de adultas. Um país que já fantasiou tornar-se uma Bélgica se descobre de novo mais próximo da Índia. Lá como cá, medra no cotidiano social, ao menos entre alguns grupos de jovens e adultos embrutecidos, uma cultura machista de desprezo pela dignidade e pelo corpo da mulher.
Na Índia, há cinco anos, a história tenebrosa de uma mulher atacada por vários homens num ônibus e atirada do veículo, que depois morreu em consequência dos ferimentos, desencadeou uma forte reação da opinião pública. As notificações saltaram de 25 mil por ano para mais de 36 mil, em 2014. Nós somos a Índia, hoje. O que faremos diante disso?
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