segunda-feira, 28 de agosto de 2017



28 DE AGOSTO DE 2017
CAPA

Kikito com brilho renovado

COMO NOSSOS PAIS, de Laís Bodanzky, foi o grande vencedor do Festival de Gramado, com seis prêmios

No ano em que completou 45 edições, o Festival de Cinema de Gramado mostrou maturidade, segurança e consistência artística que apontam para uma promissora continuidade. O alto nível em média dos filmes exibidos, a presença numerosa de jornalistas e representantes da produção audiovisual do país e do Exterior e a organização de um fórum de debates e negócios do setor qualificaram essa edição comemorativa do evento serrano. No sábado à noite, a premiação dos melhores curtas-metragens nacionais e longas estrangeiros e brasileiros encerrou a maratona de 10 dias do certame com uma bela festa que, no entanto, começou com uma hora de atraso.

O grande vencedor de Gramado 2017 foi o brasileiro Como Nossos Pais, dirigido por Laís Bodanzky. O ótimo longa-metragem que entra em cartaz nos cinemas do país na próxima quinta-feira levou seis Kikitos: direção, atriz (Maria Ribeiro), ator (Paulo Vilhena), atriz coadjuvante (Clarisse Abujamra) e montagem. A produção As Duas Irenes, longa de estreia de Fábio Meira, também destacou-se ganhando os prêmios de melhor filme do Júri da Crítica, ator coadjuvante (Marco Ricca), roteiro e direção de arte.

Ainda na competição de longas brasileiros, Bio, curioso e narrativamente ousado documentário falso de Carlos Gerbase, foi escolhido o melhor pelo Júri Popular e ainda rendeu um Prêmio Especial do Júri para o cineasta gaúcho - que dirigiu 39 atores e atrizes nessa história de um personagem que viveu 111 anos e morreu em 2070. Os atores Paulo Betti e Eliane Giardini, que protagonizam e dirigem Fera na Selva, também receberam um Prêmio Especial do Júri por sua contribuição à arte dramática no teatro, televisão e cinema brasileiros. 

O faroeste nordestino O Matador, de Marcelo Galvão - primeiro filme produzido pela Netflix no Brasil - levou duas estatuetas para casa: melhor fotografia e trilha musical. Dos sete títulos em competição na categoria, apenas dois voltaram de Gramado de mãos abanando: Vergel, coprodução entre Brasil e Argentina, e o excelente Pela Janela - deixar de fora dos premiados esse sensível e delicadamente bem construído longa da estreante Caroline Leone foi um equívoco indesculpável do júri oficial.

PRÊMIOS DE CURTAS DESTACARAM QUESTÕES DE IDENTIDADE SEXUAL

Já os jurados da mostra estrangeira também fizeram seu deslize ao escolher o irregular e pretensioso Sinfonía para Ana como o melhor filme - o longa argentino dirigido por Virna Molina e Ernesto Ardito foi contemplado ainda no quesito fotografia. Federico Godfrid foi eleito o melhor diretor por Pinamar - película também argentina que recebeu ainda os prêmios de ator, dividido entre os protagonistas Juan Grandinetti e Agustín Pardella, e melhor filme pelo Júri da Crítica. O Júri Popular, por outro lado, preferiu o documentário uruguaio Mirando al Cielo, de Guzmán García.

Quem se mostrou mais atento ao que havia de frescor cinematográfico e estético na seleção deste ano em Gramado foi o júri de curtas, que escolheu como melhor filme A Gis, de Thiago Carvalhaes, e premiou Calí dos Anjos como melhor diretor por Tailor - ambos abordam de forma inteligente e contundente os desafios, demandas e preconceitos relacionados ao universo das pessoas trans. A identidade sexual fora da norma socialmente aceita esteve presente ainda em O Quebra-Cabeça de Sara, de Allan Ribeiro, eleito o melhor pelo Júri da Crítica e vencedor do Prêmio Canal Brasil de Curtas.

A noite de premiação foi animada pela presença da cantora, compositora e atriz Soledad Villamil: a estrela argentina de filmes como O Segredo dos Seus Olhos (2009), homenageada pelo evento com o troféu Kikito de Cristal, encantou o público que lotou o Palácio dos Festivais com sua simpatia e musicalidade, interpretando no palco quatro músicas. 

O repertório de Soledad - que lançou na última sexta-feira um novo disco, chamado Ni Antes Ni Después - incluiu uma saborosa versão do clássico O Samba e o Tango, traduzindo em requebrado portenho a disposição de Gramado em ser reconhecido cada vez mais como um festival de alcance internacional e que neste ano elegeu pela primeira vez um país convidado: o Canadá.

roger.lerina@zerohora.com.br

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