CLÓVIS ROSSI
Confissões de despedida
SÃO PAULO - Despeço-me hoje deste espaço, que ocupei (indevidamente) durante 24 anos. Devo ter produzido, só para esta página, algo em torno de 7.000 textos. Portanto, tudo o que gostaria de escrever, tudo o que deveria e até o que não deveria foi escrito e devidamente publicado, sem qualquer tipo de censura ou de advertência velada ou aberta.
Mudo-me definitivamente para o caderno Mundo, no qual já tenho um espaço semanal. Agora, passarão a ser três, às terças, quintas e domingos, numa companhia que até me assusta, de tão ilustre.
Se eu fosse um veterano jogador de futebol que regressasse de longa temporada no exterior para um clube popular, diria que estou realizando um sonho de infância. Só não é bem assim porque nunca sonhei sonhos profissionais.
Nada planejei como jornalista. Fui aceitando cada um dos desafios que surgiram com o mesmo entusiasmo, porque sempre gostei do que faço, ou porque gosto mesmo ou porque não sei fazer outra coisa.
De todo modo, nunca escondi meu fascínio com o mundo, adquirido quando da revolta húngara contra a ocupação soviética, em 1956. Tinha 13 anos, idade mais própria para ler quadrinhos, futebol ou revistinhas de sacanagem do que o noticiário internacional dos jornalões.
Esse fascínio até que pôde se transformar em atividade profissional porque já estou fazendo 38 anos de coberturas internacionais, a começar do golpe no Chile em 1973. Mas sempre com um pé tambémno Brasil, às vezes em postos de chefia (no "Estadão").
Agora, é voo solo em águas internacionais, justamente na hora de turbulências várias, políticas e econômicas, que são sempre instigantes para o jornalismo. Por sorte, o Brasil que abandono -como tema, quero dizer- está menos turbulento -e melhor do que o que me tocou sofrer nesses 48 anos de profissão.
crossi@uol.com.br
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