CLÓVIS ROSSI
Sombras
FRANKFURT - O Brasil ganhou ontem a manchete da edição Europa do "Financial Times". O enunciado diz: "A guerra cambial não acabou", usando frase do ministro Guido Mantega em Londres.
O subtítulo ("O real brasileiro está perto de uma valorização recorde em 12 anos") induziria a dizer mais: a guerra cambial, na verdade, está sendo perdida, tanto que Mantega antecipa novas medidas contra a alta da moeda brasileira.
É um dos raros momentos em que o noticiário da grande mídia internacional coloca brumas no horizonte brasileiro, depois de anos de uma intensa euforia com o país. É verdade que, dias atrás, o próprio "FT" havia lançado a suspeita de que o Brasil vive uma bolha de crédito em vias de estourar. Mas saiu discretamente, não como a manchete de ontem.
Esse momento, digamos, "brumas" parece refletir a realidade dos primeiros seis meses de Dilma Rousseff como presidente. A luminosidade que acompanhou a sua campanha, a sua vitória e a posse não desapareceu completamente, mas é menos intensa.
A relação dólar/real compõe o cenário: competente análise de Joe Leahy, o correspondente no Brasil, mostra que a valorização do real tem um lado luz (o êxito econômico) e um lado sombra (prejudica a competitividade da indústria).
Luz e sombra valem para o conjunto da obra Dilma: a economia continua indo bem, embora não tão bem como em 2010, a maioria continua feliz, mas a política, em contrapartida, está enrolada demais, pantanosa demais.
A atuação da presidente (no caso do ministro dos Transportes) ou a hesitação (no caso Palocci) passam a sensação de que Dilma não se sente cômoda no papel de regente de orquestra e menos ainda na interlocução com políticos. Eu até entendo se for assim, com os parceiros que tem. Mas que ajuda a acumular sombras, ajuda e muito.
crossi@uol.com.br
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