sexta-feira, 25 de agosto de 2017


25 DE AGOSTO DE 2017
ARTIGO

OLHARES PLURAIS


Nesta edição do Fronteiras do Pensamento, intelectuais detêm-se na nossa civilização. Múltiplas visões sobre a sociedade e seus valores. Enquanto o filósofo francês Gilles Lipovetsky e o economista brasileiro Eduardo Giannetti questionaram se realmente somos a civilização da leveza, o escritor cubano Leo- nardo Padura tratou de tema causador de profundo estranhamento: "A maldita circunstância da água por todos os lados".

Lipovetsky acredita que será pela cultura e pelo investimento massivo na formação escolar que teremos uma sociedade de consumo mais digna. Giannetti vislumbra que as culturas com elementos de pré-modernidade, como a brasileira, possuem eventualmente algo de original e importante a oferecer como uma utopia para a humanidade. Uma civilização menos calcada na exacerbação do elemento competitivo, priorizando a espontaneidade, a celebração da vida.

Confesso: aguardava, ansiosa, pela palestra de Padura, imaginando que ele faria um contraponto à nossa tão conhecida sociedade de consumo, e que abordaria a realidade do socialismo cubano. Demonstrou, no entanto, sábia cautela com tais assuntos. Desfruta de condição singular em seu país, goza do direito de ir e vir. Embora não lhe falte oportunidade, não abandona a terra natal. Relata que em cinco décadas um quinto da população deixou o país. Incalculável o número de mortes devido às más condições das viagens.

Li seu notável romance histórico, O Homem que Amava os Cachorros, em que aborda fato real. Após cumprir pena pelo assassinato de Leon Trotsky na Cidade do México, Ramón Mercader refugia-se em Cuba. Na obra, descreve, em detalhes, a realidade cubana. Embora tenha nos dito que o limite físico imposto pela água também pode se converter em limite mental e cultural, e que inclusive escritores cubanos exilados não se livram dessa condição de pertencimento, nota-se o quão além do horizonte um escritor como ele é capaz de enxergar.

Eis a capacidade dos grandes pensadores: em suas palavras, ditas ou escritas, demonstram que a condição humana que nos une não obedece a qualquer tipo de fronteira.

Procuradora de Justiça e cronista martalealpach@gmail.com
MARTA LEIRIA LEAL PACHECO

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