terça-feira, 8 de agosto de 2017



08 DE AGOSTO DE 2017
CAPA

Paixão que não se explica

ASSIM COMO AS PESSOAS, cidades ou lugares causam arrebatamentos. Neste caso específico, trata-se da Eslovênia

Certo que você já sentiu isso. Eu senti, de cara, por Tiradentes. Por Florença. Por Jaguarão. Por Óbidos. Por Cortona. Por São Francisco de Paula. Por Cracóvia. Por New Orleans. Por Delft. E, finalmente, por Liubliana e Bled.

Assim como por pessoas, bastam o primeiro olhar, o primeiro contato, o primeiro toque. Não há muito o que explicar sobre a paixão que sentimos à primeira vista por um lugar ou cidade. Não importa se no interior de Minas, na Toscana, no Rio Grande do Sul, em Portugal, na Polônia, no sul dos Estados Unidos, na Holanda ou se o caso de amor é com a capital e com uma pequena cidade da Eslovênia. E vou me deter nestas duas últimas, meus mais recentes amores, para falar deste sentimento: por que nos apaixonamos assim por um lugar e não por outro?

Mesmo considerando todas as referências, ou a companhia, ou os dias ensolarados, as coincidências, a sorte de pegar a floração de uma planta, de chegar bem no dia da inauguração de um novo museu ou parque, há algo para além disso tudo quando nos apaixonamos. Para dizer a verdade, meu caso com a Eslovênia começou anos atrás. Vi fotos, não da capital, mas do Lago Bled, um cenário de sonho: águas limpas e cor de esmeralda, com montanhas à volta e, numa delas, um castelo; bem no centro do lago, uma minúscula ilha, uma igreja, uma torre. Pronto, estava completa a fantasia, alimentada pelo passar do tempo.

Planejei a viagem várias vezes, e, por aquelas coisas sem justificativas (ou com muitas), nunca acontecia. Finalmente, em abril último, fui (desculpe o delay, mas ainda acho que certos momentos, certas viagens, precisam ser digeridos(as), e não vomitados(as) como fazemos nas redes). Talvez um pouco do arrebatamento tenha se dado por ter ido, sem saber, num voo inaugural para a cidade, o que fazia a ligação entre Amsterdã-Liubliana, e o tratamento ter sido especial: flores no embarque, banho no avião, imprensa e doces no desembarque no pequeno e simpático aeroporto esloveno.

Só o hotel estava reservado, baseado na localização, quase central. De resto, me deixei levar. O centro histórico de Liubliana é compacto e cheio de cafés, restaurantes, sorveterias (uma das melhores que já conheci, a Vigò). O pequeno rio que a corta, com pontes bonitinhas ligando um lado ao outro, delineia a arquitetura. O piso, de pedras, sempre limpíssimo ? talvez seja a cidade mais limpa que já vi.

Para se ter uma vista inteira dela, a subida ao castelo é fundamental. Dá para ir de funicular, de carro ou a pé. Escolhi a última opção, ainda que a subida às vezes seja meio árdua. No castelo, do que eu mais gostei, mesmo, foi o museu de marionetes. A construção, aliás, talvez tenha sofrido intervenções demais e ficado meio descaracterizada.

No outro extremo, cruzando a rodovia por meio de túnel ou passarela, o Parque Tivoli é outra pequena joia. Flores, plantas, gramados bem cuidados, exposições ao ar livre, café, museu, área infantil, gente e gente passeando, caminhando, correndo... Gente, gente, gente. Não multidões, não superlotação. O que me impressionou foi isso: a cidade, pelo menos à primeira vista, é voltada para as pessoas. Parece simples, mas sabemos que não é.

Sobre Bled, aquela do lago, da ilha, do castelo, poderia falar outro tanto. Mas resolvi pedir ajuda a uma porto-alegrense que se casou por lá no dia 10 de junho e também foi atingida pela flecha do cupido local (leia o relato na página 10). Fiquei menos de três dias na Eslovênia e parti com o coração apertado. Como quem deixa para trás um grande amor.

ROSANE TREMEA

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