sexta-feira, 18 de agosto de 2017



18 DE AGOSTO DE 2017
FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO

Sinfonia em Gramado

CINEBIOGRAFIA JOÃO, O MAESTRO abre hoje, fora de competição, o festival de cinema

Keith Emerson, tecladista da banda Emerson, Lake & Palmer, o reverencia: Você é uma inspiração. O ex-vice-presidente americano Hubert Humphrey se derrete: Você está possuído?. Nem o professor que se anuncia como carrasco sustenta a fleuma diante do prodígio do piano. João, o Maestro, cinebiografia sobre João Carlos Martins, estreou ontem no circuito nacional e será exibido hoje, às 19h, fora da competição na abertura do 45º Festival de Cinema de Gramado sem exibir modéstia em relação ao personagem-título, retratado como um gênio obstinado que não parou nem quando acidentes limitaram o movimento de suas mãos O filme tem previsão de estreia no Rio. Grande do Sul para a próxima semana.

Essa história de superação teria chegado até mesmo às mãos de Clint Eastwood, como o maestro mostra à reportagem, via uma carta enviada pelo pianista Dave Brubeck ao diretor americano. "O drama de sua vida daria um filme", escreve o missivista. Clint não ficou com o projeto, que caiu no colo de Bruno Barreto, que por sua vez convidou Mauro Lima, de Tim Maia (2014). Para descrever os solavancos da trajetória de Martins, o diretor paulistano usa uma comparação que poderia agradar o colega californiano:

- Parece um roteiro de filme sobre pugilismo, em que o destino é o antagonista.

Os percalços do destino são mesmo a única coisa que detêm o pianista e maestro no filme. Vamos a eles: uma perfuração no braço que lesou um nervo durante uma partida de futebol, aos 25 anos. Trinta anos depois, veio a sequela cerebral de um golpe na cabeça desferido por um assaltante na Bulgária, que comprometeu o movimento dos seus dedos. Tudo, diz Martins, reproduzido com fidelidade - dos elogios rasgados a seu talento musical como pianista às agruras que o levaram a ser maestro.

- Já a dramaturgia é levemente baseada, afirma o músico paulista de 77 anos. - Nunca fui um pai ausente, mas o filme precisava mostrar essa minha obstinação.

No papel do protagonista dividem-se Davi Campolongo, que o interpreta como uma criança prodígio, Rodrigo Pandolfo, que vive Martins em sua juventude, e Alexandre Nero, que o faz na maturidade, já um nome consagrado. Lima precisava de um argumento para justificar um dos arcos da trama: como João passou de uma criança retraída, a quem o piano servia como fuga do bullying escolar, para o músico "centralizador de atenções". Qual foi a solução? Mulheres, responde o diretor:

- Há um impulso sexual por trás desse lado compulsivo - diz ele, que recorreu ao biógrafo Ricardo Carvalho, autor do livro Maestro! - Uma Biografia, para pincelar os detalhes mais apimentados (leia ao lado).

Daí brotaram episódios como o do bordel uruguaio em que o protagonista perdeu a virgindade (o maestro corrige: "Foi em Cartagena") e sua fuga pela janela da casa de um marido traído - seu fraco por um rabo de saia soa como única "falha de caráter". Em determinada cena, depois que João já extasiou o pai, namoradas, parentes, vizinhos e o público de vários países com seu virtuosismo nas teclas, são apresentadas suas conquistas como empresário: trouxe ao Brasil shows de Alice Cooper, Genesis e ajudou Éder Jofre a recuperar seu título mundial no boxe.

POLÊMICA DO CASO PAUBRASIL NÃO É LEMBRADA NA TRAMA

O longa não menciona o caso Paubrasil, esquema que arrecadou ilegalmente US$ 19 milhões para campanhas eleitorais de Paulo Maluf no início dos anos 1990. O escândalo era operado por uma empresa que pertencia ao músico. Martins disse que não tinha conhecimento das fraudes.

- Isso iria abrir um parênteses enorme - responde Lima, sobre não abordar o caso. - Seria leviano tratar daquilo brevemente.

O músico afirma não ter dado muitos palpites na obra, salvo supervisionar a sincronização entre a música tocada e o uso da teclas pelos atores. Mas se envolveu numa saia justa com Marcelo Serrado, convidado por ele antes de Nero ser escalado.

- Só que o projeto mudou depois do convite, e Mauro não abria mão da escolha dos atores. Chamou Nero - explica Martins. À época, Serrado se queixou à revista Veja Rio. Disse que foi um "megadesrespeito".

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