quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016



03 de fevereiro de 2016 | N° 18434 
DAVID COIMBRA

Parabéns ao Instituto Lula


Sou fã do Instituto Lula. Que boa ideia. Se um dia ficar importante, vou fazer um instituto para mim. Instituto David Coimbra. Todas as ocorrências desagradáveis da minha vida serão tratadas pelo Instituto David Coimbra. Um leitor reclama da coluna? O Instituto David Coimbra responde. Reuniões? Quem participa é o Instituto David Coimbra. Pagamento de contas? Tarefa para o Instituto David Coimbra.

O que é genial nos nossos institutos, o meu e o do Lula, é que somos nós e não somos ao mesmo tempo. Nossa opinião exata, precisa, definitiva, essa não é conhecida, só a dos Institutos, que, convenientemente, sempre estão prontos para nos defender. Institutos, em geral, são muito leais.

Você dirá que a defesa acaba enfraquecida. Ao contrário! O Instituto a fortalece. Porque não é um indivíduo se defendendo; é uma entidade que o defende. É algo além das pessoas e acima delas, algo com identidade jurídica, com marca e logotipo. É perfeito, sobretudo para nós brasileiros que adoramos uma chancela oficial.

Já viu as propagandas? Essa é a cerveja “oficial” da Copa. Esse é o patrocinador “oficial” da Seleção. O Inter se orgulha de ser campeão do mundo “oficial Fifa”. Para os colorados, o Grêmio é um mero campeão do mundo “Toyota”. A Toyota é uma empresa, é como uma pessoa. Não é uma federação, não é um “órgão”, não é um instituto. Não é oficial.

Preciso de um instituto.

Usaria o Instituto David Coimbra principalmente com a minha mulher. Não gosta de algum comportamento meu? Queixe-se com o Instituto David Coimbra. Quer comprar alguma coisa? Fale com o Instituto David Coimbra. Quer que eu vá junto à loja? Leve o Instituto David Coimbra. Leu no celular uma mensagem que não devia ter lido? É com o Instituto David Coimbra.

Mas é claro que tudo tem seu limite.

Lembro de uma velha história de Foguinho, o imortal Oswaldo Rolla, treinando o goleiro Schneider em 1969, durante sua breve passagem pelo Inter. Schneider perguntava:

– Seu Rolla, se o cobrador da falta bater aqui nesse canto, o que eu faço?

– O senhor dá um passo para frente, para fechar o ângulo.

– E se ele bater mais em cima, ali. O que faço?

– Aí o senhor recua, para poder alcançar a bola.

– E se ele bater por cima da barreira, com força, exatamente na forquilha. O que faço?

– Aí o senhor toma o gol, seu Schneider!

É isso. Às vezes, o gol é inevitável. Já enfrentei situações em que não tinha explicação para o meu erro, a não ser admitir: errei. Paciência.

Lula vive uma contingência deste jaez. Ele jura não ser dono de um sítio que foi reformado pela Odebrecht, mas está comprovado que passou lá 111 finais de semana em quatro anos, um a cada 15 dias. Além disso, parte de sua mudança foi levada para lá e a imprensa sempre tratou o lugar como “o sítio de Lula”, sem jamais haver desmentido. 

Lula também jura não ser dono de um triplex que foi reformado pela OAS, mas está comprovado que pagou parte do imóvel, que sua mulher acompanhou a reforma e que ele foi ao local acompanhado de ninguém senão o próprio dono da OAS, Léo Pinheiro.

Se você pensar que Collor renunciou por ter comprado um Fiat Elba com dinheiro mal-havido...

Não, governistas, não: Lula não está sendo perseguido. Sim, governistas, sim: Lula deve explicações. Mas que explicações poderá dar? Nem o Instituto é capaz de resolver essa. Lula tomou o gol.

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