17 de fevereiro de 2016 | N° 18448
PORTO ALEGRE
A nova polêmica da cidade: os saleiros dos restaurantes
APROVADA POR VEREADORES, lei que proíbe recipientes com sal na mesa de estabelecimentos divide opiniões
Comer fora em Porto Alegre vai ficar menos salgado. Não, os preços não baixaram. É que, na última segunda-feira, a Câmara de Vereadores aprovou um projeto de lei que prevê restrições ao uso do sal na alimentação. Se o prefeito José Fortunati sancioná-la, bares e restaurantes passarão a ser proibidos de colocar saleiros ou envelopes com o produto nas mesas dos estabelecimentos.
Trata-se de uma emenda da vereadora Sofia Cavedon (PT) a um projeto do vereador Delegado Cleiton (PDT), que cria o Programa Menos Sal, Mais Saúde e a semana de mesmo nome. Pela emenda, bares, restaurantes, cantinas de escolas, hospitais e centros de saúde ficam proibidos de deixar nas mesas recipientes com sal. A parlamentar, criadora de outros projetos de lei referentes a alimentação e saúde, afirma que aproveitou o texto do colega pedetista para tornar pública a preocupação com os problemas que envolvem o excesso de sal.
– Estou convicta de que o tema da saúde pública não se resolve se não tivermos uma reeducação para uma saúde adequada e se não houver a conscientização da população. Alimentos com excesso de sal, açúcar e gordura são nocivos – argumenta.
Sofia define a proposta mais como uma ação educativa do que punitiva – o texto não prevê multa para os estabelecimentos que descumprirem a nova regra. Consumidores que desejarem o saleiro poderão solicitá-lo aos garçons.
A medida não é pioneira. Em 2011, o governo da província de Buenos Aires, na Argentina, tomou decisão semelhante como parte de um programa de combate à hipertensão arterial. Em 2014, o governo da província de Montevidéu, no Uruguai, restringiu não apenas o uso do sal, mas também da maionese nas mesas dos restaurantes.
ENTIDADES DIVERGEM QUANTO À PROPOSTA
A nutricionista funcional Renata Gabbardo acredita que a lei deva contribuir para a redução no consumo de sal, relacionado a doenças como hipertensão, problemas cardíacos e dos rins. Segundo Renata, o consumo diário do produto indicado para um adulto é entre 2,5 e 4 gramas, o que corresponde a dois e meio ou quatro sachês.
– O sal fornece sabor. Quando tu tens ele disponível, acabas acrescentando mais. Mas em um restaurante, se não tiver, tu não vais levantar para pegar – opina a nutricionista.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Estado (Abrasel-RS) considera a ação positiva. A diretora- executiva da entidade, Thaís Kapp, diz que, em conversa preliminar, os empresários do ramo se demonstraram favoráveis. Mas ressalta alguns aspectos que podem gerar problemas até a adaptação completa do sistema:
– Apoiamos no que diz respeito à saúde. Mas vai gerar alguns transtornos de logística no começo. Em um bufê, isso implica ter alguém para levar e tirar o produto da mesa do cliente.
Já o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, contesta o projeto:
– O assunto envolve educação, não imposição. Se tivéssemos trabalhado juntos, teríamos construído uma lei que, através de um processo educativo, viesse a esclarecer os malefícios do sal.
Chmelnitsky afirma que Sofia Cavedon desmarcou uma reunião que teriam na semana passada. Ela alega que o adiamento ocorreu em função de um outro compromisso e que uma nova data deve ser agendada em breve.
camila.kosachenco@zerohora.com.br
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