quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016



17 de fevereiro de 2016 | N° 18448 
DAVID COIMBRA

Sou contra

Li inúmeras considerações acerca do saleiro, ontem, nas redes sociais. Não pensei que chegaria esse dia, mas a vida é surpreendente. É que a Câmara de Vereadores proibiu o saleiro nas mesas de bares e restaurantes de Porto Alegre, o que causou ruidosa comoção. Houve manifestações de pessoas revoltadas com a perseguição ao saleiro, reclamando que da violência urbana ninguém cuida. Houve alentados artigos defendendo o ostracismo do saleiro, alegando que o sal provoca graves problemas de saúde em seus incautos consumidores.

Inteirei-me de tudo. Ponderei. Pondero ainda: será que sou contra ou a favor do saleiro?

Não consegui chegar a uma conclusão.

Sei que sou contra, por exemplo, a máquina de lavar louça. Máquina de lavar louça é um engodo. A máquina de lavar louça dá mais trabalho do que se você for lá na pia e simplesmente lavar a louça com suas próprias mãos.

E, ao falar em “próprias mãos”, talvez tenha tocado no ponto nevrálgico do sucesso da máquina de lavar louça. Acho que as mulheres preferem passar todo aquele trabalho com a máquina porque não querem estragar as mãos com água e detergente.

Provavelmente.

Mas, ainda assim, sou contra a máquina de lavar louça. Se fosse vereador, tomaria providência a respeito.

Também sou contra as calças saruel. Tão contra, que penso nem ser caso para a Câmara de Vereadores. Tem de ser crime federal uma mulher usar calça saruel. Crime para a PF investigar. Crime para delação premiada. Será que o Cunha poderia apresentar um projeto a fim de dar um jeito nisso? Ou a Dilma mesmo. Não lembro de ter visto a Dilma dentro de calças saruel. Se visse, decerto não me esqueceria.

Outra coisa: cachorro pequeno. Sou contra. Sei que várias pessoas sentem grande afeição por cachorros pequenos. Assisti, outro dia, a uma entrevista da Gisele Bündchen a uma TV americana. Em certo momento, o entrevistador mostrou uma foto da cachorra que ela tinha desde pequena e que, apesar de se chamar Vida, morreu. Gisele, ao ver a foto, virou o rosto para o outro lado e deixou escapar uma lágrima dorida.

– Desculpa – disse. – Me emocionei.

Em homenagem a Gisele, minha bela e simpática vizinha, não faria nenhuma lei proibindo cachorro pequeno. Mas ficaria atento.

Também sou contra certas palavras que os sociólogos usam, como “empoderamento”. É certo que proibiria os brasileiros de falar ou escrever empoderamento.

Que mais? Língua com ervilha? Sou contra. Bife de fígado? Contra. Crocs? Um pouco contra. Não muito, porque meu filho gosta. Entra na categoria do cachorro pequeno.

Axé, funk, Carnaval de São Paulo, campeonato de pontos corridos, cadeira e mesa de plástico, carrocinha de cachorro-quente que se chama Ki-Kão, listas de coisas que você deve fazer antes de morrer. Contra, contra, contra, contra. Sou contra!

Mas sobre o saleiro ainda não me decidi.

Votem em mim para vereador, e vocês vão ver que essa cidade vai tomar tenência.

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