11 de fevereiro de 2016 | N° 18442
DAVID COIMBRA
Como uma onda no mar
Avida vem em ondas, como o mar, num indo e vindo infinito, escreveu Nelson Motta para Lulu embalar o Brasil. Assim são os povos. A história se repete. Marx dizia que se repete a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa, mas a verdade é que, não raro, ela apenas se repete. O roteiro das civilizações, em 10 passos, é o seguinte:
1. Um povo se estabelece nas proximidades de algum fio d’água.
2. Esse povo trabalha duro, porque é preciso trabalhar duro para domar a natureza selvagem.
3. O trabalho duro faz o povo progredir.
4. O progresso traz excedentes econômicos.
5. Os excedentes econômicos levam à riqueza.
6. A riqueza leva ao ócio.
7. O ócio leva à luxúria e à gula, e também à sofisticação cultural, à arte e à literatura. Leva, enfim, aos prazeres do intelecto e da carne.
8. Os prazeres do intelecto e da carne tornam esse povo requintado e manemolente.
9. Esse povo, de elevada cultura, produtor de grande arte, lascivo e cínico, é também muito mais humano e compassivo. Esse povo alcançou o ápice da civilização em sua época.
10. Neste ponto, outro povo, muito menos civilizado, mais agressivo e sem escrúpulos, cobiça a riqueza dessa civilização e a conquista. A invasão e a tomada são relativamente fáceis, porque o povo mais civilizado está também muito mais amolentado pelas amenidades da civilização.
Em resumo, um povo menos civilizado, de valores e hábitos masculinos, domina pela força o povo civilizado, de valores e hábitos femininos.
Esse povo é feminino porque a civilização o é. O processo civilizatório é um processo de feminilização. Você verá esse mesmo roteiro em toda a história humana. Para nos limitarmos ao Ocidente, olhe para os macedônios grosseiros companheiros de Alexandre submetendo os persas delicados em suas vestes de seda; olhe para os romanos austeros da República de Cincinatus dominando os gregos amantes da arte e da filosofia; olhe para os germanos e gauleses invadindo a Roma decadente, com Alarico à frente deles a rosnar:
– Ai dos vencidos!
Olhe, por fim, para Gengis Khan, passando no fio da espada germanos, gauleses e romanos, anunciando-se, como Átila, “O Flagelo de Deus”, e pronunciando sua frase preferida:
– O maior prazer de um homem é matar seu inimigo, cavalgar em seu cavalo e possuir suas mulheres e filhas.
Ah! Essa frase de Gengis Khan é o resumo da masculinidade incivilizada. É o oposto da civilização e da feminilidade. Não por acaso, Gengis Khan, o guerreiro invencível, é também o maior reprodutor da raça humana. Tanto que os cientistas calculam que, ainda hoje, haja 16 milhões de descendentes de Gengis Khan respirando debaixo do sol.
É isso que grita a natureza de um homem-bicho: espalhar sua descendência aos milhares e vencer o inimigo pela violência. É isso, também, que, volta e meia, expressa o homem moderno. Os números o comprovam: 90% dos acidentes de trânsito fatais são causados por homens, 90% dos presidiários são homens, os homens vivem menos do que as mulheres porque morrem de morte violenta, os homens matam e morrem.
Foi a mulher, graças à maciez da sua inteligência e da sua pele, que arrancou o homem desse destino selvagem.
É por isso que o Ocidente é efeminado: porque o Ocidente é civilizado. Nunca, na história do mundo, a civilização chegou a tal ponto de humanização, de cultura, de respeito às diferenças. Nunca, na história do mundo, uma civilização foi tão feminina.
Mas a vida vem em ondas, como o mar. Nesse indo e vindo infinito, dias atrás ocorreu um fato que mereceu pouca atenção, nos Países Baixos, mas que é muito eloquente. No próximo texto digo qual foi. Será o derradeiro.
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