Amor e ressentimento, utopia e distopia
DIVULGAÇÃO/JC
O amor de olhos fechados (356 páginas, R$ 59,90, É Realizações Editora, tradução de Petro Sette-Câmara), do grande filósofo, professor e escritor francês Michel Henry (1922-2002), em síntese, é um denso romance que trata com delicadeza e profundidade sobre amor, ressentimento, utopia e distopia. Como pano de fundo, os marcantes acontecimentos de Maio de 1968, que incendiaram Paris e tiveram repercussão mundial, com reflexos até nossos dias.
Michel Henry nasceu na Indochina Francesa, atual Vietnã, então colônia da França. Aos 17 dias de vida perdeu o pai, que era oficial da Marinha francesa. A mãe, pianista, transferiu-se para a França em 1929, com Henry e o filho mais velho. Ainda jovem estudante, Henry descobriu sua paixão pela filosofia, que mais tarde transformaria em profissão.
Em 1943, participou da Resistência Francesa e, em 1945, concluiu seus estudos filosóficos em Paris com o trabalho A felicidade de Espinosa. Doutorou-se pela Universidade de Lille e, entre 1960 e 1987, foi professor titular de filosofia na Universidade de Paul Valéry, em Montpellier.
O amor de olhos fechados narra a história de uma cidade que se tornou famosa por ser um polo cultural, mas que, aos poucos, é invadida por uma onda revolucionária, bárbara, que destruirá tudo à sua frente. A cidade de Aliahova, antigo reduto de comerciantes, voltou-se para o conhecimento e ganhou fama como centro cultural, como caldeirão de inteligência e de vida, capaz de aceitar as diferenças de origem, de estilo de vida e de riqueza entre seus habitantes.
Sahli, estudante estrangeiro, sem dinheiro, com sede de saber e a misteriosa Deborah, apaixonada por sua cidade natal, vão protagonizar a história no momento em que a universidade local, de repente, começa a ter seus mestres contestados e a ver comitês de estudantes que pretendem controlar tudo. Velhos métodos de ensino e seus praticantes são tomados pelo descrédito público.
Os distúrbios universitários são apenas o início de uma grande revolução social em que todo o poder, todo o conhecimento, todos os bens serão aniquilados em nome de uma nova ordem. Sahli e Deborah vão testemunhar essa metáfora do mundo contemporâneo e sobreviverão.
A obra, ao mesmo tempo em que trabalha as duas forças que dirigem o mundo - o amor e o ressentimento -, pinta com cores fortes a transformação de uma utopia em uma distopia. A veia filosófica do autor e sua visão estética estão bem presentes no enredo, que funciona, aliás, como um bom meio de transmissão delas. O indivíduo humano será a única força capaz de enfrentar a barbárie? Esta é uma das questões centrais do romance, em meio aos processos totalitários que esmagam e criação espiritual.
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