sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016


Jaime Cimenti


Hora de organizar o Carnaval

No clássico samba Plataforma, do Aldir Blanc e do João Bosco, os versos são bonitos e adequados aos anos de chumbo: não põe corda no meu bloco/não vem com teu carro-chefe/não dá ordem ao pessoal/não traz lema nem divisa/que a gente não precisa/que organizem nosso Carnaval...não põe no meu...

Na real, passado mais um "tríduo momesco", precisamos, urgente, organizar nosso Carnaval e esse País, nesse restinho de ano que sobrou. O Carnaval das Superescolas S.A. da Sapucaí, como sempre, estava bem organizado e no final deu samba, sambão, com a minha Mangueira verde-e-rosa na cabeça. Ela não é a escola que ganhou mais títulos, mas para mim é a mais tradicional na música. Estou esperando trocadilhos mais criativos. Chega de dizer que o cara chorou ou que sorriu quando a mangueira entrou. Criatividade, galera!

No nosso país do Carnaval, nunca tantos falaram tanto, deram tantas opiniões, tão livremente, nunca tantos se movimentaram tanto e nunca tanta coisa aconteceu, na política, economia etc., como nestes últimos tempos. Todo mundo se tornou, tipo assim, jornalista, dando pitacos, informações, interpretações e fazendo comentários sobre tudo e todos. Antes era todo mundo técnico de futebol. 

Agora todo mundo é presidente, governador, prefeito e deputado. Todos querem se jogar na mesma piscina e aí é preciso organizar o carná. É bom ver esse clima de liberdades diversas, de democracia, imprensa livre e ver o País botando a boca no trombone. Mas precisamos nos organizar para que a festa seja boa para todos, como já disse o nosso querido ancestral português. Vamos nos organizaire! Falou o Manoel, temeroso de não aproveitar devidamente a festa.

Milhões fizeram Carnaval de rua, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Muitos municípios, especialmente no Ceará, resolveram usar o dinheiro da festa em outras atividades. Ótimo, festa popular, genuína, verdadeira, sem gastança exagerada de grana pública ou privada. O verdadeiro e antigo Carnaval é esse, de rua, de janela, popular, sem grandes organizações e donos. 

Nas ruas de Ipanema e Copacabana, em especial, houve exageros nas ruas, xixi, assaltos, sujeira etc. É preciso repensar. Não é bom para ninguém, isso. E não deixa de ser uma metáfora nacional. Carnaval, liberdade, alegria, música, bebida com moderação(?), mas, bom pensar, mesmo nesses dias é preciso um mínimo de ordem e civilidade.

Pensando bem, nada em exagero é bom. Nem Carnaval, chocolate, sorvete, pizza, batata frita, Nutella e campeonatos do Inter.

Lançamentos

Cabeça de mulher olhando a neve (Edições Besourobox, 136 páginas), do escritor e administrador cultural Jéferson Assumção, autor de mais de 20 livros, com linguagem criativa e ousadias temáticas e toques surrealistas. Tabajara Ruas, na apresentação, escreve: a grande novidade literária, o grande susto, o prazer imediato e misterioso que todo leitor espera está finalmente aqui.

Corrupção - Disfunções de governo - Repensar o Estado de ontem, hoje e sempre (AGE Editora, 208 páginas) do advogado, escritor, poeta, remador de competição master e piloto de planador Plinio Paulo Bing, fala, com força, fundamento e clareza, sobre democracia, povo, eleições, Estado, política, corrupção, administração pública, ética e outros temas candentes de nossa atualidade.

Entrevista com o Caudilho: um cowboy no pampa, (Martins Livreiro Editora, 118 páginas), do advogado gaúcho Cassiano Fuga Cunha, narra a presença do jornalista e cowboy americano Ambrose Bierce no RS em 1893, em meio à Revolução Federalista, quando veio entrevistar Gaspar Martins e Júlio de Castilhos e foi escoltado por um piquete gaúcho comandado pelo Capitão Vidoca Cunha.

A propósito...

Essa conversa de Carnaval mostra que já não há livros ou explicadores para entender ou explicar o Brasil como antes. Estamos carnavalizados. Brasil rural, industrial, interiorano, urbano, litoral, serra, mar, está tudo embolado, todo mundo falando tudo, toda hora, ao mesmo tempo, bem alto. Tomara que a gente consiga organizar nosso Carnaval sem lança-perfume e briga demais. 

Tomara que o bloco da Corte Federal não atravesse o samba. O samba, a bossa nova, são o que a gente tem de melhor. São Pixinguinha nos proteja e guarde! Melhor não alterar o samba tanto assim. A rapaziada pode perder a paciência e pegar outros instrumentos ao invés dos musicais.

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