segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



15 de fevereiro de 2016 | N° 18446
L. F. VERISSIMO

Arrependidos

Não desespere. Se a humanidade lhe parece desprovida de caráter e autocrítica, movida pela ganância e a cupidez, odienta, suja, podre, nojenta e má, sem nada que a redima, confie em outra característica humana, que é o arrependimento. É preciso acreditar que, cedo ou tarde, as pessoas se arrependem do que eram ou fizeram e se retratam, e podemos voltar a confiar no ser humano. Temos muitos exemplos disso à nossa volta. Sim, bem aqui, neste país que, a julgar pelo noticiário, chafurda num atoleiro moral sem precedentes. 

Na própria Operação Lava-Jato, que desnuda diariamente as mazelas brasileiras, temos tido casos de remorso que reacendem nossas esperanças. Grandes empresas, acusadas de comprar contratos e vantagens com propinas para políticos e partidos, arrependeram-se e pedem leniência para poderem, modestamente, continuar a trabalhar. Em troca, prometem devolver o dinheiro desviado nos casos investigados – não, claro, o lucro produzido em muitos anos fazendo a mesma coisa sem chamar atenção, o que já seria demais – e fazer penitência. Duas aves-marias e três padres-nossos e não se fala mais nisso. Que bonito.

Há outros exemplos edificantes. Um dos delatores da Operação Lava-Jato fez uma delação premiada, arrependeu-se dela e fez outra, desmentindo a primeira. A primeira não agradou aos investigadores, a segunda sim. Porque, além de tudo, veio abençoada pela bela virtude do arrependimento. Que se saiba, o delator repetente continua delatando, em homenagem ao seu remorso exemplar.

Lula e o PT, segundo partido mais citado nas investigações sobre propinas (o primeiro é o PP, cujo envolvimento, estranhamente, não parece interessar muito aos investigadores e ao noticiário), têm dado mostras de arrependimento, ainda não explícito mas bastante promissor. Talvez um remorso mais evidente pelos seus erros (cinzas sobre a cabeça etc) ajude a salvar o PT. E agora temos uma confissão de remorso surpreendente, partindo do PSDB, que, imaginava-se, não precisava fazer penitência porque nunca pecara. 

O deputado baiano Antonio Imbassahy, novo líder do partido, reconheceu que o PSDB optou por sabotar o ajuste fiscal e cometeu o que chamou de “outras extravagâncias” com a única intenção de atrapalhar o governo, mesmo prejudicando o país. O Imbassahy não pede desculpas ao país, mas promete que a irresponsabilidade não se repetirá, porque “não cabe à oposição fazer coisas malucas”. Ou seja, quando perdeu a eleição, o PSDB ficou maluco, mas já passou.

E o Imbassahy se arrependeu, gente. Há esperança.

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