quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016



25 de fevereiro de 2016 | N° 18456
L. F. VERISSIMO

Mistério

Não faz muito, dizia-se que o melhor negócio do mundo era uma companhia de petróleo bem administrada e o segundo melhor uma companhia de petróleo mal administrada. Hoje, nenhuma companhia de petróleo, bem ou mal administrada, precisa ser uma Petrobras para se sentir roubada: os preços do sangue negro do planeta não param de cair. Outras commodities de prestígio, como o minério de ferro, também perdem mercado e valor. 

Está tudo de pernas pro ar, mas o caso do petróleo em baixa é o mais intrigante. É cada vez maior o número de carros queimando gasolina nas ruas do mundo, a questão não é de menos demanda. Fala-se que a desvalorização do petróleo é uma manobra do Ocidente para acabar com a chantagem política dos produtores do Oriente Médio, ainda mais agora que a produção de óleo nos Estados Unidos quase supre o mercado doméstico. De qualquer maneira, não deixa de ser divertido ver uma Arábia Saudita subitamente com problemas de orçamento, em cima de todo aquela riqueza subterrânea tornada hipotética.

Mas, como diz a canção, até as nuvens mais negras têm uma auréola de prata. O ocaso das commodities corresponde a um aumento na produção de celulares e outros efeitos da mudança de hábitos da humanidade, na era da comunicação instantânea e da padronização internacional do consumo. Quando uns perdem, outros ganham. Me lembrei do que diziam da Alemanha antes da ascensão do nazismo. 

A inflação descontrolada na República de Weimar era tamanha, que as fraus tinham que ir à feira levando o dinheiro em carrinhos de mão. A economia estava em ruínas, havia miséria e desesperança por todo lado e nenhuma perspectiva de melhora – a não ser por um setor, que prosperava enquanto os outros penavam. Que milagre era aquele? Que gênios conseguiam sobreviver em meio à derrocada? Foram investigar e descobriram que a exceção à penúria geral era a indústria de carrinhos de mão.

Especulava-se sobre o tamanho das reservas de combustível fóssil no mundo, o que estimulava o desenvolvimento de alternativas renováveis e de outras fontes de energia, como o sol e o vento. Tudo no pressuposto de reservas minguantes de petróleo, o que justificava o preço alto. O que justifica os atuais preços baixos, se não é a política, é um mistério. Ou eu é que não estou entendendo mais nada.

PAPO VOVÔ

Não gosto de cortar as unhas do pé. (Pronto, achei que você deveria ter essa informação.) Deixo cortarem minhas unhas regularmente em respeito à saúde pública, mas sob protestos. A Lucinda, nossa neta de sete anos, acompanha algumas dessas sessões de tortura, e de outras apenas quer saber: “Foi com fiasco ou sem fiasco?”.

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