10 de fevereiro de 2016 | N° 18441
DAVID COIMBRA
Elas nos convencem sempre
Vou dizer por que a civilização ocidental se tornou feminina.
A civilização ocidental se tornou feminina porque a civilização É feminina.
A civilização é obra da mulher. Tudo por causa do cérebro. Explico.
Olhe para um tigre. Qualquer tigre é mais forte do que 10 Andersons Silvas, mais rápido do que 10 Usains Bolts, mais elegante do que 10 Seans Connerys e mais ágil do que 10 Yelenas Isinbayevas, além de ter as lindas cores e o design da camisa do Criciúma.
Por que, então, os tigres não dominam o mundo e não nos guardam em zoológicos para sermos apreciados como feras raras?
Resposta: porque o cérebro humano é 10 vezes maior do que o deles. Mas é claro que o tamanho não é o único documento, no caso do cérebro, porque as baleias possuem cérebros 10 vezes maiores do que os nossos e, ainda assim, uma baleia não consegue fazer nem uma letra de axé. A complexidade, aliada ao tamanho, sim, é que é documento.
As pessoas, portanto, necessitam de grandes cabeças para derrotar tigres e outras contingências da vida. Para vir à luz do mundo, porém, essa grande cabeça tem de atravessar estreita passagem, como todos sabemos. Certo. Agora responda: como fazer essa travessia sem dilacerar e matar as mães no parto?
A sábia natureza resolveu a questão dando aos bebês humanos, no nascimento, cérebros menores e caixas cranianas moles. A ideia genial da natureza, como soem ser as ideias da natureza, é dar tempo ao pequeno Sapiens para que seu cérebro cresça e a caixa craniana se solidifique. Esse processo é sofisticado e lento. Leva, pelo menos, cinco anos.
Nesse período, a maior parte da energia da criança é consumida pelo cérebro em formação. A sede do cérebro é tamanha, que ele chega a beber dois terços da energia produzida pelo pequeno filhote de ser humano, na sua etapa inicial da existência. É por isso que o corpo demora tanto a se desenvolver. O crescimento do corpo só se tornará veloz quando o cérebro estiver quase pronto.
Um lépido cavalinho ou uma perigosa serpente cruzam num zás da infância à adolescência. Nascem e, em minutos, saem por aí troteando ou rastejando. Um humano, não. Um humano precisa de cuidados por muitos anos, até se tornar razoavelmente independente e começar a pedir jogos do X-Box.
Quem providencia esses cuidados aos pequenos, na natureza? As fêmeas das espécies, óbvio. Afinal, foi de dentro delas que brotaram as crias. Só que o trabalho das tigresas e das aliás, que é o nome da fêmea do elefante, é facilitado pela rápida autonomia que adquirem os seus filhotes. O nenê humano, por outro lado, é um inútil. Ele nada faz, além de comer, beber, chorar, defecar e urinar.
Por essa razão, devido à necessidade desesperada de cuidados de seus rebentos, é que as fêmeas do Sapiens precisam desesperadamente de estabilidade. É muito incômodo, para uma fêmea do Sapiens que recém pariu, sair por aí caçando mamutes ou mudando de clareira na floresta por causa da escassez de alimentos.
Foi essa vicissitude, e não qualquer contingência econômica, que fez o Sapiens desistir da aventurosa vida nômade e adotar a trabalhosa, porém estável, vida sedentária. Muito provavelmente, foi a mulher quem concebeu a agricultura e aprendeu a domesticar os animais. Mas, se não foi ela que o fez, certamente foi ela quem convenceu o homem a adotar essa forma de viver, e você sabe que uma mulher, quando quer convencer um homem a fazer algo, convence.
A mulher, portanto, inventou a civilização!
Mas ainda não consegui chegar ao Ocidente efeminado. Chegarei no próximo texto.
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