12 de fevereiro de 2016 | N° 18443
DAVID COIMBRA
Os novos bárbaros
Na Holanda, terra dos craques Johan Cruyff, Van Basten, Van Gogh, Rembrandt e Sylvia Kristel, a imortal Emmanuelle, nessa Holanda das mulheres expostas em vitrines e das tulipas que valiam ouro, um grupo de homens decidiu fazer uma manifestação de protesto contra os estupros de mulheres alemãs por muçulmanos, ocorridos no Ano-Novo.
Sabe como os holandeses protestaram? Vestindo minissaias.
Sério. Eles se vestiram como mulheres, numa tentativa de mostrar que os estupros também os afetam.
Poucos episódios poderiam representar tão bem a diferença entre as duas civilizações em choque, a do Ocidente judaico-cristão e a do Oriente muçulmano.
Imagine um muçulmano egresso da Síria ou do Iraque, onde o Estado Islâmico queima pessoas vivas, assistindo a essa delicada manifestação. Imagine um homem que simplesmente considera as mulheres como inferiores vendo o espetáculo dos homens europeus que, em vez de brandirem tacapes contra os que ameaçam suas mulheres, se travestem e se comportam como meninas.
Que respeito um protesto desse tipo poderá inspirar ao agressor? Posso ver os muçulmanos rolando de rir diante da cena. Mas é claro que nem todos os ocidentais são iguais. Essa é uma tendência da sociedade, não de todos os indivíduos que a compõem.
Camille Paglia diz que os jovens europeus que aderem ao Estado Islâmico estão, na verdade, rebelando-se contra a pressão de uma sociedade cada vez mais feminina. Ou seja: a adesão ao Estado Islâmico é um grito da masculinidade reprimida.
Isso é importante.
E, agora, depois de uma semana inteira, chego aonde queria chegar. Porque esse é o grito de parte da sociedade ocidental atual. É o grito de Bolsonaros, Trumps, Le Pens e Pegidas. Não um grito, como parece, da direita que ressurge, mas um grito da masculinidade sufocada.
Quem acha que a direita é homofóbica, machista e racista está equivocado. Há muitos gays, mulheres e negros direitistas, assim como há muitos esquerdistas preconceituosos. Poucos países na história do mundo foram tão preconceituosos e conservadores quanto a China Maoísta e a União Soviética Stalinista.
O sucesso de Trump e Bolsonaro não é o sucesso da direita. É o sucesso da revolta contra o mal-estar na civilização, nas palavras de Freud. É o sucesso dos instintos contra a ponderação. Neste tempo de extrema feminilidade, a reação é a masculinidade extrema. Não por acaso, dois populistas começam a campanha eleitoral americana fazendo barulho. Trump e Sanders são opostos. Há espaço para ambos, porque a sociedade está radicalizada.
No Brasil, quando Bolsonaro fala grosso, quando ridiculariza qualquer consideração, quando ele é incivilizado, ele se torna um instrumento de alívio social, porque ele também se opõe a um extremo.
Bolsonaro está chutando convenções. Está reagindo à repressão, reagindo ao politicamente correto, à vigilância dos costumes, à nova moral.
Essa reação selvagem e eminentemente masculina não é uma ânsia só de muitos homens. É de muitas mulheres também. É uma ação instintiva, subconsciente, hegeliana, de equilíbrio moral e hormonal da sociedade. Donde, a popularidade desses novos bárbaros.
O que vai acontecer? Até onde eles vão chegar? É imprevisível.
O certo é que eles vão mudar o mundo. Já estão mudando. Tempos severos virão.
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